06/06/2019 - 06/06/2019 19h - Livraria Cultura do Conjunto Nacional | Av. Paulista, 2073 - Cerqueira César, São Paulo - SP

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Em um mundo onde as pessoas não se escutam mais, onde foram treinadas para disputar entre si cada instante de fala e de reconhecimento, sempre e a qualquer custo, a arte da escuta torna-se mais rara e difícil de ser realizada. Escutar o outro é tarefa complexa, e é também um dos mais poderosos antídotos contra as dificuldades de um convívio social harmônico e que desmoronam casamentos, detonam a vida no trabalho e minam os melhores projetos e intenções.

Encontro à primeira vista impossível, um palhaço e um psicanalista, em um insight inusitado, se cruzam e se reconhecem no emocionante compromisso de revelarem a escuta como um tratamento social dos conflitos, mas também como um caminho para tornar a experiência humana mais rica e interessante. Fruto da partilha de histórias, casos e algumas reflexões ora filosóficas, ora divertidas entre o psicanalista Christian Dunker e o educador e clown Cláudio Thebas, nasce o livro O palhaço e o psicanalista – Como escutar os outros pode transformar vidas, lançamento da editora Planeta.

“Reconfirmamos a ideia inicial de que a parte do psicanalista no palhaço e a parte do palhaço no psicanalista têm em comum a prática da escuta como uma brincadeira séria que transforma as pessoas”, afirmam Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, cujo canal no YouTube já atraiu cerca de 130 mil inscritos, e Thebas, conhecido como o lendário palhaço Olímpio do espetáculo Jogando no Quintal. Inspirados por essa escuta lúdica, considerada uma antessala para a escuta empática, os autores apoiaram suas pesquisas ao longo de anos de convivência e encontros com pais, alunos, empresários, pacientes e público — de teatro e psicanalítico em geral.

Umas das chaves principais da obra, e que a difere das inúmeros livros que abordam o tema, é a indicação para que cada pessoa descubra sua maneira singular de escutar. Dunker e Thebas defendem que essa é a lição mais importante, uma vez que publicações sobre escuta surgem como uma espécie de manual que engessa a percepção e não levanta o problema básico: “Como você, nos seus termos, com a sua história e do seu jeito pode encontrar um jeito de escutar os outros que lhe seja próprio e autêntico”, ressaltam.

A dupla tece diversos conceitos ao longo do livro baseados em situações conhecidas de todos, como as reuniões de trabalho do mundo corporativo, as discussões com “chatos, fascistas e outros fanáticos”, além de trazer outros temas como a diferença entre simpatia e empatia, ou competir e cooperar e itens como “Sete regras para ser melhor escutado”. Segundo os autores, os encontros familiares, os funcionamentos institucionais, além das platafromas digitais são particularmente vulneráveis ao fracasso da escuta. “Cedo ou tarde estão os dois lados gritando que foi o outro que começou, e que é ele quem me faz fazer o que estou fazendo”, afirmam os autores.

 

Sobre os autores

Christian Ingo Lenz Dunker, nascido em 1966, pai e Mathias e Nathalia, é psicanalista professor Titular do departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP. É Analista Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano e coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP. Fez seu pós-doutorado na Manchester Metropolitan University sendo professor convidado em mais de quinze universidades internacionais. Duas vezes agraciado com o prêmio Jabuti, por Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica (Anablume, 2012) e Mal-Estar-Sofrimento e Sintoma (Boitempo, 2016), publicou mais de uma centena de artigos científicos e capítulos de livro, além dos mais recentes Por que Lacan? (Zagodoni, 2017) e Reinvenção da Intimidade (Ubu, 2017). Colunista do Jornal Zero Hora e da Boitempo, participa incisivamente da vida política nacional, seja por meio de intervenções públicas, projetos sociais ou de seu canal no Youtube. Seus trabalhos sobre cultura de condomínio, patologias do social e lógicas de sofrimento tem extrapolado os muros da psicanálise e alcançado uma abrangência na filosofia política, na educação, na saúde pública e nas ciências da linguagem.

 

 

Cláudio Thebas é palhaço, escritor, e educador pós-graduado em Pedagogia da Cooperação (Projeto Cooperação). É fundador do Laboratório de Escuta e Convivência (LEC), consultoria especializada em promover engajamento, diálogo e integração de grupos e equipes. É idealizador de diversos projetos de transformação social, como o PlayMonday – Transformadores de Instantes, movimento que já foi realizado em sete países, com o propósito de reconectar as pessoas com a sua humanidade. É também cofundador das Forças Amadas, palhaços que atuam no fortalecimento psíquico e emocional de pessoas em situação de fragilidade social, por exemplo moradores de regiões atingidas por catástrofes como a da região serrana do Rio de Janeiro em 2011. Sua vasta experiência na condução, orientação e treinamento de grupos o levaram a ser um palestrante muito requisitado em todo Brasil. Foi palestrante do TEDx Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e mestre de cerimônias dos TEDx Vila Madá e TEDx FMUSP.

 

Ficha técnica

Título: O palhaço e o psicanalista

Autores: Christian Dunker e Claudio Thebas

256 páginas

R$ 49,90

Trechos do livro:

“Vamos imaginar uma situação. Você adora cachorros e, batendo papo com alguém, essa pessoa diz o contrário, que ela os detesta. A partir do seu referencial, provavelmente você vai julgá-la com os mais variados adjetivos: insensível, chata, desumana etc. A conversa pode acabar por aí. Mas… Você pode optar pelo diálogo e perguntar por que ela não gosta de cachorros. E então ela te explica que quando tinha 3 anos, o cachorro da vizinha a mordeu na perna e ela levou 20 pontos. Neste exato instante aconteceu o diálogo. Ou seja, o significado do não gostar te atravessou, evitando que você, que já estava julgando o outro por chatice e insensibilidade, evite sentenciá-lo injustamente.”

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“Nos anos 1990, apareceu um livro muito popular sobre liderança e relação com os objetivos chamado A arte cavalheiresca do arqueiro zen. Tratava-se de pensar a realização de objetivos não pela união simples da flecha ao alvo, mas pela incorporação do arco e pelo posicionamento diante do que se faz. Escutar uma reunião é uma arte correlata. Exige domínio da técnica zen para não se deixar envolver em dinâmicas típicas de desorientação, competição e errância. Exige polidez e compostura para enfrentar provocações e descaminhos do ego. Mas só os supremos mestres de nove caudas conseguem integrar silêncio máximo, o gestual mínimo e a brevidade do golpe certeiro à altura da grandemestre Kyudo.

 

É por isso que de todas as situações de escuta, uma das mais temidas por profissionais clínicos e corporativos chama-se ‘reunião’. Só há algo potencialmente pior que uma reunião, que é quando ela se acasala com uma comissão gerando frutos tentaculares de perda de tempo, competições medievais, nos quais uma questão irrelevante facilmente se transforma num daqueles jogos de tabuleiro, tipo WAR, onde nos esquecemos de que é só um jogo e passamos a viver a coisa como se realmente estivéssemos decidindo o futuro do mundo”.

 

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“Mas como educar para uma escuta inclusiva, empática, cooperativa? Acreditamos que não exista uma única resposta, nem a melhor e nem a certa. O que existem são pistas. E, na maioria das vezes, elas são mais valiosas do que respostas definitivas. Essas pistas se encontram nas histórias que vivemos. Às vezes camufladas em metáforas e às vezes bem ali a mostra, concretizadas em ações que deram certo, que deram não muito certo, ou que deram errado mesmo. Cada um de nós com certeza tem um caso de encontro e desencontro para contar. Um dia em que uma única palavra mal compreendida pôs tudo a perder, ou o contrário, um simples gesto promoveu uma grande mudança na qualidade da relação. A ideia deste livro é justamente essa, oferecer algumas pistas”.