Departamento de Psicologia Social e do Trabalho
Linhas de Pesquisa: Psicologia Social de Fenômenos Histórico-Culturais Específicos. Psicologia Social, Saúde Coletiva e Política.
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Graduou-se em Psicologia na Universidade de São Paulo (1986). Na mesma universidade, realizou mestrado (1995) e doutorado (1999) em Psicologia Social. Seu tema persistente de investigação corresponde ao que tem designado como humilhação social ou humilhação política. Atualmente é Professor Doutor no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo.

O docente teve sua pesquisa sempre polarizada pelo exame de um sofrimento político, a humilhação social, que gradualmente ganhou seis enunciados:

  • rebaixamento moral longamente formado, um sofrimento histórico, angústia disparada pelo impacto traumático da dominação;
  • impedimento da ação e da palavra; impedimento de cidadania; um sintoma de desenraizamento;
  • persistente mal-estar público: o amargo sentimento de bens públicos como bens expulsivos; o pressentimento de ofensas e o sentimento de não possuir direitos;
  • condição especialmente vinculada, nas sociedades modernas, às formas simples ou simplificadas do trabalho assalariado;
  • condição em que ficou impedida a aparição de um agente de dons, encoberto sob a figura fixa do carente; um congelamento das trocas;
  • embotamento do rosto, invisibilidade pública ou superexposição reificante, uma perda de fiadores humanos no círculo do reconhecimento.

O pesquisador inclinou-se para a narrativa de episódios testemunhados e para as histórias de vida, aferindo relações entre memória, angústia, transferência e cura. Decidiu-se também por interrogações de método: buscou discutir impasses da observação participante e da prática de entrevistas em Psicologia Social. Três observações sobre o estado atual da tarefa: a) a pesquisa sobre humilhação social orientou-se agora para o caso da humilhação racial; b) certos temas de iniciação em psicologia social, psicanálise e fenomenologia têm sido retomados segundo os resultados da pesquisa principal e têm alcançado ensaios didáticos: são temas tais como o mundo, a pessoa, o signo, o rosto, o contato e a comunicação, os impulsos humanos, a extensão e o conteúdo de experiências cognoscitivas e de experiências éticas; c) alguns poucos ensaios têm sido também elaborados por recurso textos literários (contos de Machado de Assis para o tema da humilhação racial, narrativas de Clarice Lispector e um poema de Fernando Pessoa para os temas de iniciação).

Disciplinas

Graduação

Psicologia Social
Treze Lições: uma preparação para a Psicologia Social
Reificação e Psicologia Social
Linguagem e Psicologia Social: Subsídios Gestaltistas e Fenomenológicos.
Ações Comunitárias
Trabalho de Pesquisa em Psicologia
Introdução à Psicologia
Liderança e Comportamento Humano

Pós-Graduação

Humilhação Social - Alguns Elementos para o Exame Psicológico de um Sofrimento Político

Extensão

Formação de Educadores Populares

Por recurso à Psicologia Social e à Psicanálise, por meio de cursos e redação de textos, o docente assessora semestralmente também professores do Instituto Superior de Educação Pró-Saber (Rio de Janeiro) na formação de educadores populares.

Humilhação racial: memória, transferência e cura

O docente assessora mensalmente as agentes do Instituto AMMA - Psique e Negritude através de tarefas que variam entre as seguintes: redação de textos, discussão de pesquisa ou projetos públicos, aula em seminários ou outros encontros, supervisão de atendimento clínico, direção de um grupo operativo.

Orientação à Queixa Escolar

O docente ministra uma aula sobre humilhação social no curso Orientação à Queixa Escolar desenvolvido anualmente no IPUSP.

Laboratórios

Laboratório de Memória e História Oral Simone Weil

Fundado em 1999, é coordenado por Ecléa Bosi, sendo José Moura Gonçalves Filho o seu coordenador adjunto. Reunindo doze professores e pesquisadores de Psicologia, Literatura e Filosofia, o grupo é dedicado a estudos interdisciplinares de Memória e História Oral, assiduamente frequentando a obra de Simone Weil. As reuniões no Laboratório deixam subsídios para disciplinas, pesquisa, participação em bancas, publicações, assessorias científicas e serviços à comunidade.

Projetos

Humilhação Social: as determinações do fenômeno e problemas de método

1) Desenvolver seis determinações do que designamos como humilhação social, a saber: a) uma modalidade de angústia vinculada ao enigma da dominação; b) um fenômeno político de impedimento da ação e da palavra; c) uma modalidade de angústia especialmente vinculada, nas sociedades americanas e modernas, ao trabalho escravo e depois ao trabalho assalariado formado como trabalho fragmentado e subordinado; d) uma angústia que pode comutar-se para formas mais definidas de sentimento: o pressentimento de ofensas no trabalho e na cidade, o sentimento de não possuir direitos, o sentimento de fealdade, a vergonha, a amargura de bens ou lugares sentidos como sectários, o sentimento de invisibilidade ou superexposição, o sentimento de contar como alvo dos dons sempre alheios, o sentimento de indigência incorrigível; e) fixação de pessoas na posição de carentes, o impedimento de ação litúrgica; f) impedimento do rosto. 2) Formalizar princípios metodológicos que possam contribuir para a pesquisa de Psicologia Social com cidadãos das classes pobres. Estas investigações várias vezes foram reforçadas por jovens pesquisadores que aí encontraram temas em que se concentraram. Devo aqui ao menos mencionar as narrativas de Fernando Braga da Costa sobre invisibilidade pública e a pesquisa de Bernardo Parodi Svartmann sobre o trabalho reificado.  

Dominação, racismo e angústia

Investigações psicossociais sobre o fenômeno do racismo e da humilhação racial. Projeto que conta com a especial colaboração de militantes e psicólogas do Instituto AMMA: Jussara Dias, Maria Lúcia da Silva, Marilza de Souza Martins, Maria Cristina Francisco, Maria Aparecida Miranda, Clélia Rosane dos Santos Prestes. E também de Miriam Rosa dos Santos.

A coisa, a omelete, o seio e a face.

Investigações cruzadas de Psicologia Social, Fenomenologia e Psicanálise que, estimuladas por resultados da pesquisa principal (humilhação social), pretendem desenvolver ensaios didáticos sobre temas de iniciação em ciências humanas: a necessidade e o desejo; o objeto intencional, o signo e o enigma; a angústia, a significação e o sentido; a sedução, a máscara e o rosto; a linguagem e os avatares da referência a algo e a alguém; a ação, os princípios da ação, a ação polarizada pelo mundo, a ação polarizada pelo rosto e a ação despolarizada. Conta aqui a colaboração de Alfred Michaelis.

Clarice Lispector e Psicologia Social

Investigações acerca da literatura e da leitura de Clarice Lispector, pretendendo assinalar e discutir assuntos que guardam parentesco com dois temas clássicos de psicologia social: o mundo e a pessoa. O docente tem aqui realizado uma investigação sempre dividida com Rita de Cássia Kileber Barbosa e várias vezes escrita a quatro mãos.

Publicações Selecionadas

Gonçalves Filho, J. M. Humilhação Social: um problema político em Psicologia. In : Revista Psicologia USP. São Paulo, IPUSP, v. 9, n. 2, 1998 , p. 11-67.
Gonçalves Filho, J. M. O bairro proletário e a hospitalidade. In: Revista Boletim de Psicologia. São Paulo, Sociedade de Psicologia de São Paulo, v. XLVIII, n. 108, Janeiro-Junho 1998, 27-47.
Gonçalves Filho, J. M. A memória da casa e a memória dos outros. In: Revista Travessia. São Paulo, Centro de Estudos Migratórios, Ano XI, n. 32, Setembro-Outubro / 98 , p. 17-24.
Gonçalves Filho, J. M. Problemas de método em Psicologia Social : algumas notas sobre a humilhação política e o pesquisador participante. In: Bock, A. M. B. (org.). Psicologia e Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003, pp. 193-239.
Gonçalves Filho, J. M. A invisibilidade pública (prefácio/ensaio). In: Costa, F. B. da. Homens invisíveis – relatos de uma humilhação social. São Paulo, Globo, 2004.