A Biblioteca Dante Moreira Leite do Instituto de Psicologia da USP, assim como a
maioria das bibliotecas, tem como grande preocupação a preservação do acervo,
afinal, estamos falando de cuidar do conhecimento registrado em obras que
guardam a história e a evolução da humanidade.

Para que o acervo possa ser transferido de geração em geração, a Biblioteca
necessita da ajuda de seus usuários, além de fomentar ações que resultem na
preservação. Programas de conscientização do uso correto das obras, limpeza e
remanejamento do acervo e cuidados com insetos e pragas que deterioram o papel
são algumas dessas ações.

Há quatro anos, idealizada pela Comissão de Biblioteca composta por docentes dos
quatro departamentos, alunos e um representante da Biblioteca; ocorre no Instituto
de Psicologia da USP uma atividade chamada APAGA-AÇÃO, como parte do
programa de recepção aos calouros. A atividade consiste em pedir a ajuda dos
calouros para apagar livros grifados por outros usuários ao longo do ano. No início
da tarefa a equipe da Biblioteca posiciona a ação enquanto tomada de consciência
para o bom uso do bem público e de como devemos nos relacionar com bens
comuns. Alguns rabiscos em livros podem ter se tornado célebres mas, certamente,
não é o caso da maioria dos riscos espalhados pelos livros das bibliotecas.

Além de danificar a obra, explica Moreno Barros “… quem escreve em livros
geralmente está estabelecendo uma relação consigo mesmo, a maior parte das
inscrições nada mais é do que lembretes para o futuro. Essas interferências
condicionam a leitura. Se eu pegar um livro que contenha inscrições que eu mesmo
tenha feito previamente, é muito provável que as anotações irão tendenciar a
maneira como eu compreendo o texto. Anotações feitas tempos atrás podem não
refletir mais o que a leitura pode me proporcionar tempos posteriores.”

(http://bsf.org.br/2010/02/23/apagacao-de-livros-trote-bicho-calouro/)
A atividade lúdica tem angariado a simpatia dos calouros e a Biblioteca vem
observando a diminuição de obras rabiscadas. Além da conscientização, alguns
alunos declaram que a ação fez com que pensassem no real significado do que é
bem-público.

Este ano a atividade foi interrompida para que juntos calouros, veteranos e
bibliotecários discutissem sobre o sentido do APAGA-AÇÃO e os livros não foram
apagados. No entanto, o real espírito da ação ficou embutido no pensamento dos
alunos que debateram o tema com interesse e preocupação.

Ao final, como não havia tempo para que os livros fossem apagados, os calouros
foram convidados a apagar quaisquer livros rabiscados que consultem,
independente de qual biblioteca faça parte. Oxalá a grande lição tirada do debate
seja a conscientização do que é bem público e de qual deve ser a nossa relação
com os bens que toda a sociedade paga para que alguns possam usufruir.

Para saber mais sobre as campanhas de preservação da Biblioteca e sobre o
APAGA-AÇÃO, veja:

http://www.livrosfilmesemusicas.com.br/2010/03/apaga-acao-adorei-iniciativa.html
https://www.ip.usp.br/imprensa/aconteceu/2010/apaga_acao.html
http://www.usp.br/imprensa/?p=4495
ROSA, C.R.O. Preservação do acervo em bibliotecas. Boletim da Academia Paulista de
Psicologia. São Paulo, v.22, n.2, p.37-38, 2001.
ROSA, C.R.O. Livro danificado… Grifos e Rabiscos. Boletim oficial do Centro Acadêmico Iara Iavelberg. São Paulo, 15 ago. 2001, p.1.

Por Célia Rosa