21 jun 2020

 

 

 

 

 

Maria Julia Kovács é professora livre docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Graduada em psicologia pela PUC de São Paulo, ela tem mestrado e doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP e estuda e pesquisa temas como morte, luto, bioética, formacao de profissionais de saúde e educação.

Procurada pela reportagem, Maria Julia falou sobre a importância de viver o luto e o momento atípico que vivemos, por conta da pandemia. Confira os detalhes na entrevista a seguir:

A dor da perda é inexplicável e se torna pior ainda sem um ritual de despedida. O que as famílias podem fazer para minimizar o impacto da ausência deste momento em que se vive uma pandemia?

A dor da perda de uma pessoa querida, familiar com quem se tem vínculo é dolorosa. Os rituais de despedidas são importantes para ajudar a se adaptar à vida sem a pessoa querida. Os rituais presenciais ficaram prejudicadas pela necessidade de evitar contato e pelo isolamento social. O que está impedido é o ritual presencial, a questão é se é possível fazer esses rituais de forma virtual com os familiares e se a pessoa estiver isolada poderá também fazer essas atividades, sempre lembrando da pessoa querida e do que faziam juntos.

Você sugere que a internet pode ajudar as pessoas. De que forma isso pode ocorrer?

A internet é o instrumental que temos no momento que pode ajudar no contato com pessoas da família, amigos e outros recursos. O problema é que nem todos têm acesso ou facilidade para usar recursos. Mas, tem sido o modo com que as pessoas possam se encontrar, conversar sobre a pessoa querida e também formas de oferecer apoio a pessoas enlutadas. É importante haver assessoria para que as pessoas possam aprender a usar a internet a seu favor, principalmente, no caso de pessoas idosos que não tinham conhecimento sobre as ferramentas virtuais.

Qual a importância de viver o luto?

O processo de luto é a possibilidade de elaborar perdas significativas de pessoas ou de situações da vida, como separações, adoecimento, saída do país. No caso da pandemia falamos da perda de uma situação de vida normal, de projetos, de empregos, então, é um processo de luto pela vida normal perdido, normal entendido como o que eram as atividades da pessoa.

O luto necessariamente não significa morte?

De um dia para o outro passamos a ter que ficar em casa, não poder encontrar familiares e amigos, conviver com a perda de empregos, viagens, lazer. É preciso ter autorização a expressar o luto, elaborar sentimentos, e ter os recursos para se adaptar a essas novas situações. O luto é uma experiência universal, mas também é singular já que cada pessoa tem a sua forma de viver essa situação.

Por Ângela Bastos

Publicado originalmente em NSC Total.

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