10 mar 2020

 

Só quem já conseguiu perdoar verdadeiramente alguém sabe a sensação de leveza e tranquilidade que isso traz. E essa sensação vem, inclusive, acompanhada de outras vantagens para nossa saúde física e mental. Porém, para conquistar tudo isso, é preciso respeitar o processo e se permitir, porque esse ato tem mais a ver com nós mesmos do que com a pessoa que enxergamos como objeto de nosso perdão. A noção de perdão em nossa cultura é carregada de uma conotação moral, é considerado um ato de amor que produz uma transformação nas pessoas, que redime e nos torna melhores do que antes. “A ideia é bonita, está presente na poesia, mas deixa de lado algo psiquicamente mais importante, que é a ideia de que o verdadeiro perdão envolve reparação”, explica psicólogo e psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). Porém, uma coisa é certa: vale a pena se dedicar a essa empreitada.

Como conseguir perdoar?

É comum imaginarmos o ciclo do perdão completo quase como uma página em branco. Sem mágoas, sem ressentimentos, mas também sem história, algo impossível de alcançar. Então, imagine que o processo do perdão é como olhar para suas dívidas simbólicas. Assim como você tem o banco, que registra o que comprou, gastou, quanto precisa devolver e retribuir, todos temos um passivo com pessoas, situações, lugares, com nossos sonhos, o que se deixou de fazer. Por isso, a inspeção dessa dívida simbólica é importante. “Quem fica obcecado com a página em branco é porque não quer ver o extrato bancário, porque está com medo. Esse é o primeiro momento, olhar e ver o real tamanho da dívida simbólica, porque ao mantermos isso fechado, os juros aumentam, o valor se inflaciona e vira um monstro que, na realidade, não existe, mas existe na fantasia”, elucida Dunker. Depois é chegada a hora de pensar nos atos reparatórios. Cada pessoa tem um jeito. Como pagar aquela dívida, em que moeda? De que forma? Isso não importa, o que vale é acontecer a reparação da experiência prejudica. “Pense com calma em como prefere consertar isso. Existem pessoas que podem ajudar a fazer isso, conversas que ajudam. Muitas vezes em conversas com amigos, pessoas que confiamos e mudamos nosso entendimento, procurando um ângulo em que a história possa ser recontada”, ele reforça.

Como o perdão pode fazer bem para quem perdoa

Conseguir se livrar da mágoa pode ajudar principalmente na redução do estresse e na mudança da percepção de perigo em relação às outras pessoas. “Quando não perdoamos, o mundo é um lugar mais assustador. É mais provável que você sinta desconfiança e que se ofenda mais facilmente”, diz o psicólogo Luskin. O perdão nos ajuda a entender também que podemos lidar com a nossa dor para que tenhamos maior probabilidade de confiar novamente.

Uma análise de diversos estudos feita por pesquisadores do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College London, na Inglaterra, mostrou que raiva e a hostilidade podem aumentar a incidência de doenças cardíacas em pessoas saudáveis. Os pesquisadores inclusive sugerem que intervenções voltadas para a administração da raiva e da hostilidade sejam adotadas como parte de programas de prevenção de doenças cardíacas. “O perdão é extremamente eficaz no controle da raiva, pois seu objetivo é exatamente esse: libertar a pessoa que perdoa dos efeitos nocivos que surgem quando nos vemos prisioneiros dessas emoções”, conta Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada pela Universidade da Pensilvânia. Existem também inferências indiretas do perdão. Um processo de perdão abandonado pela metade gera um nível elevado de culpa. Já a culpa é uma variante da angústia. “Quanto mais angustiados, mais expostos ficamos para doenças psicosomáticas, desenvolvimento de sintomas psicológicos, dificuldade em ter contato com o outro de forma empática. Nos individualizamos, ficamos solitários conforme não criamos laços”, destaca Dunker.

 

Viva Bem UOL, 20/02/2020
Por Amanda Cruz
Original disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/02/20/perdao-nao-e-so-sobre-esquecer-o-que-houve-9-pontos-para-levar-em-conta.htm
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