18 jan 2022
Psicanalista é o convidado desta semana no BDF Entrevista - Boitempo/ Divulgação

Psicanalista é o convidado desta semana no BDF Entrevista – Boitempo/ Divulgação

Por José Eduardo Bernardes

Independente dos rumos que o Brasil tomará após as eleições de 2022, a onda negacionista que invadiu o país não retrocederá tão fácil assim. É o que afirma o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

“O negacionismo é um pouco assim como a curva da covid, ele não se resolve de uma vez, ele não se resolve por um grande fato”, diz.

A ideia de que vacinas não têm efeito positivo, ou a de que a pandemia de covid-19 não é assim tão perigosa, apesar da ampla difusão dos problemas dela decorrentes e das mais de 620 mil mortes registradas desde março de 2020, são difundidas quase de maneira oficial, principalmente por aqueles que deveriam conter o avanço da doença e pensar no bem estar coletivo do país.

Segundo Dunker, frear essa onda dependerá de “uma mudança cultural, portanto, discursiva, que envolve, por exemplo, também uma mudança dos nossos afetos, do enquadre de sentimentos para as nossas trocas sociais, para as nossas leituras políticas. Isso aparentemente está em curso, mas não vai desaparecer sem soluços, como a gente está vendo também, de forma semelhante à curva da covid”.

Convidado desta semana no BDF Entrevista, o psicanalista aponta ainda que tanto o presidente da República quanto os seus ministros “fizeram algo que a gente pode colocar na conta do crime contra o patrimônio simbólico, não vou dizer da humanidade, mas do Brasil”, ao desdenhar das mortes.

“A gente tem uma longa tradição de discussão, de estudo sobre o luto, mas essa é uma situação sem precedentes. É aquele momento de checagem da teoria: ‘será que é mesmo assim que acontece quando a gente está falando em grandes massas, em populações extensas, em lutos adiados?’. Porque a gente tem um ingrediente nessa história muito inusitado, muito excepcional, que foi a suspensão dos ritos funerários”, explica.

“Isso não é uma coisa que passa em branco, ela deixa um passivo. E quando falta o contato social, essa partilha da perda, a partilha da dor, isso se complica, porque o luto não é um processo individual, nunca foi uma questão de você com as memórias e lembranças daquela pessoa, é você com as memórias, com a dor, mas é você com os outros, com quem você está vivendo isso junto”, completa Dunker.

Na entrevista, o psicanalista fala ainda sobre “pulsão de morte”, os malefícios da quarentena para as questões de saúde mental, o aumento da carga de trabalho dos psicanalistas e terapeutas e sobre a caracterização do burnout como doença ocupacional.

“A gente já vinha tentando alertar as pessoas, publicando livros, artigos, tomadas de posição junto às instituições de saúde mental, e que diz respeito aos malefícios, ao efeito deletério mesmo de certas práticas no interior do neoliberalismo, práticas de gestão, que a gente chama de gestão do sofrimento, que estão ligadas à precarização do trabalho. E como é que se trata isso? É psiquicamente, mas também mudando as condições do que a gente aceita como um regime de trabalho”.

Confira a entrevista na íntegra: https://www.brasildefato.com.br/2022/01/18/burnout-se-trata-psiquicamente-mas-so-tem-fim-sem-a-precarizacao-do-trabalho-afirma-dunker

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