Por meio da psicanálise é possível combater a indiferença (causadora de dor) com a produção de outras indiferenças.

Indiferença; para ser usada quando alguém simplesmente não liga.
Desprezo, falta de interesse e apatia são elementos relacionados à indiferença – esta que faz parte da nossa cultura e vem sendo supervalorizada como forma de desafetação frente ao sofrimento, pois, “ser indiferente” é visto como status de poder frente aos demais.
“A indiferença é uma atitude em relação a algo”, sustenta Daniela Tankevicius Ferraz em sua dissertação de mestrado intitulada Indiferença: um estudo psicanalítico. Afirma ainda que é um caso para ser investigado no campo de pesquisa em psicanálise, uma vez que, é por meio do sofrimento psíquico que o tema abordado chega aos psicanalistas.
O contexto político caracterizado por um narcisismo generalizado dentro do neoliberalismo em que vivemos, contribui para a construção de uma lógica de exclusão e negação da diferença, assim como uma indiferenciação dos sujeitos dentro da massa. É apostando na psicanálise como a portadora de um saber sobre as possibilidades de tratamento e reposicionamento dos sujeitos frente ao desejo na construção de hipóteses sobre possíveis estatutos da indiferença no campo clínico/político e reunindo os conceitos de Freud e Lacan que Daniela desenvolve sua investigação sobre a indiferença como modalidade de sofrimento da nossa época.
Não é sozinha que a indiferença atua. Trabalha, muitas vezes, junto a outros processos da composição individual como noções de identificação e alienação. São diversas as faces que marcam a presença da indiferença na atualidade e, de certa forma, estão todas ligadas umas às outras.

Pintura em homenagem a todas as mulheres assassinadas em San Lorenzo, distrito de Roma. Foto por Stefano Avolio
A fixação em identidades rígidas leva um sujeito a se envolver em situações extremas de ódio e fanatismo; a agir com intolerância ao encontrar com o que é estranho de si e do outro; a efetuar indiferenças que são valorizadas como se significassem sucesso e autorrealização, tudo isso como resultado de uma dificuldade de reconhecimento da diferença. Além disso, há a indiferença depressiva que se depara indo contra a lógica do mercado, o que a torna indesejável no contexto social.
Independente de como essa indiferença da qual estamos tratando é manifestada, conclui-se que nela há uma dor. Dor que pode ser tratada pela psicanálise através do auxílio na produção de outras indiferenças necessárias frente a hipersensibilidade e reatividade às diferenças dos outros, e não anestesiando, autocontrolando ou isolando os pacientes, Daniela conclui.
Por Juliane F. S. Santos
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