01 abr 2010

Fundamental para o exercício de papéis sociais, o grupo ganha espaço na adolescência. Possibilidades e riscos são as marcas desse momento

As dificuldades de ser único e igual ao mesmo tempo

Da mesma maneira, é preciso também atentar para os aspectos problemáticos que surgem com a formação de grupos. Muitas vezes, por medo do isolamento, jovens acabam adotando regras e comportamentos coletivos sem colocá-los em questão. Falas como a de Flávio*, 14 anos (leia o destaque abaixo), mostram que esse tipo de atitude pode levar ao bullying.

“Ao mesmo tempo em que anseiam pela identidade própria, eles percebem que ser igual a todo mundo é a saída mais segura para não se expor e perder a aprovação”, afirma Francisco Baptista Assumpção Júnior, psiquiatra e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

Quando existe o risco de os objetos de identificação virarem desculpas para a intolerância com os que pensam diferente, é fundamental questionar, em sala de aula, a postura coletiva. A ideia é ajudar a turma a entender que cada integrante, ativa ou passivamente, legitima as atitudes de todos. Dessa forma, a responsabilidade sobre os atos deve ser discutida e partilhada.

FLÁVIO Zoando o nerd
Na minha sala tem um nerd q sempre atrapalha a hora da saída. Faz pergunta 5 minutos antes de acabar a aula. Então a gte zoa mesmo, chama ele de “inteligente” e td mundo ri. Dou altas risadas zoando o cara. Todo mundo gosta.

O RISCO DA AGRESSÃO
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Em algumas turmas, atitudes intolerantes viram código coletivo. Surge o preconceito

Outro aspecto importante dos grupos diz respeito à consolidação da noção do que significa ser homem ou mulher na sociedade. Ao se afastar dos pais em busca de novas referências masculinas e femininas, os adolescentes procuram seus iguais para entender quais códigos de conduta regem essas relações.

Não é por acaso que os grupos geralmente começam com integrantes do mesmo sexo, que partilham informações e encorajam os outros à aproximação sexual com membros da mesma turma ou de outra. É possível perceber essa postura na fala de Joana*, 13 anos (leia o destaque abaixo). Sozinho, o adolescente tende a se sentir inseguro a dar o primeiro passo, já que nessa fase transbordam as encanações com o próprio corpo e a capacidade de provocar desejo no outro.

JOANA Paquerando com a galera
Eu conheci o Bernardo pq ele era amigo do irmão da minha melhor amiga. Daí ela disse que eles sempre fikavam numa lan house e passeando perto de casa. Chamei minhas amigas, a gt se encontrou e um tempo depois, ficamos.

ENCONTRO DOS SEXOS
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Meninos e meninas usam o grupo para treinar condutas em relação ao sexo oposto

“O adolescente, dentro da segurança que o coletivo oferece, se expõe ao desconhecido que é se colocar à prova no sentido sexual. Não à toa, vemos grupos de meninos e de meninas andando pelo shopping para verem e serem vistos, usando-se mutuamente como intermediários no processo”, afirma Evelyn Kuczynski, psiquiatra da infância e adolescência.

Se a turma ajuda nessas ocasiões, há horas em que ela também pode causar tensão pelo medo de ser ridicularizado pelos amigos. Dependendo de como os integrantes do grupo se relacionam, eles podem diminuir ou aumentar o grau de frustração que sempre existe nas questões emocionais e sexuais.

Nessa relação entre os gêneros, você tem o papel fundamental de dissipar preconceitos e levantar questões a respeito do que é ser homem e mulher hoje em dia. Sair dos estereótipos que dizem respeito a cada um e fornecer ferramentas para que os próprios alunos elaborem seus conceitos é formá-los para a reflexão e não para a reprodução de posições culturais fixas e restritivas. Agindo assim, eles aprendem também a questionar os posicionamentos do próprio grupo em relação a esses e outros aspectos. É por essa perspectiva que o docente deve lidar com o tema.

Tanto na hora de questionar o próprio olhar sobre eles, combatendo os rótulos, como incentivando-os a refletir sobre suas responsabilidades.

* O nome dos adolescentes entrevistados foi trocado para preservar sua identidade.

Os destaques desta reportagem trazem depoimentos em um programa de troca de mensagens instantâneas pela internet de alunos do 9º ano da EMEF Victor Civita, em São Paulo.

Por Ana Rita Martins

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Rev. Nova Escola, Edição 231 – Abril, 2010

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