16 dez 2021

Por Camila Lima

“O ano que vem será melhor”. Se é só nisso que você anda pensando, relaxe! Você não está sozinha. Há pelo menos quatro mil anos, época em que foram registradas as primeiras celebrações de ano novo na Babilônia, a humanidade repete esta mesma ideia. Ali, o ano terminava no equinócio de primavera, momento em que o povo se reunia para festejar a semeadura da cevada e discutir melhorias na comunidade para o período seguinte. Independentemente da cultura, do dia, da crença, do Rosh Hashaná judaico ao Ano-Novo chinês, o fechamento de um ciclo e o início de outro sempre permeia um tema em comum: o otimismo.

Nos tempos atuais, pós-hecatombe pandêmica mundial, esse sentimento surge mais forte do que nunca. Nos comportamos como no pós-guerra de 1950, a famosa Golden Age, pensando no futuro melhor que está por vir. O otimismo tenta penetrar em nossa vida por todos lados: nas tendências da nova moda dopamina, com as cores e estampas vibrantes; nos rostos rejuvenescidos pelos filtros mara das mídias sociais; nos discursos solidários dos grupos de WhatsApp e principalmente nas campanhas publicitárias. “Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria, que se pode imaginar”, como previu Caetano.

Mas, ao contrário do que muitos pensam, este é um período de muita ansiedade e angústia, alerta Filipe Batista, psiquiatra e colunista da Vogue. “Depois destes dois anos de pandemia as pessoas estão esgotadas emocionalmente, e nesse contexto, a cobrança pelo otimismo e o bem-estar pode se tornar uma obstinação”, avisa. “E daí isso vira uma tirania, um grande problema. Afinal, a vida é feita também de revezes.”

Isso não quer dizer que você deve esquecer o vestido branco do Réveillon, parar de dizer “ter saúde é o que importa” ou mesmo de olhar preços de passagens para Europa para as férias de 2022. O anseio pelo bem – tanto o comunitário quanto o individual – está longe de ser um comportamento que deve ser evitado.

A terapeuta Juliana Sé, especialista em coerência cardíaca pelo HeartMath Institute, instituto que há quase 30 anos pesquisa as relações entre cérebro e coração, trabalha com o desenvolvimento do otimismo como uma habilidade física. Segundo ela, o conceito de que uma pessoa é simplesmente ‘pessimista’ ou ‘otimista’ é simplista demais. “O otimismo é algo que pode ser adquirido com treinamento, praticado e desenvolvido, assim como fazemos com as habilidades motoras”, explica.

O processo de restabelecer nosso positivismo em relação à vida começa com o autoconhecimento. A terapeuta afirma que devemos encontrar o que a psicologia positivista chama de ‘forças principais’, ou seja, as características de olhar para o que temos de bom. Além disso, nos cercar também de tudo aquilo que nos propicia a sensação de bem-estar. Desta maneira, podemos estimular os hormônios que regulam as emoções. “A partir do momento que tenho consciência das pequenas coisas que me fazem bem – como colocar uma planta bonita no meu escritório ou rolar na grama com meu cachorro, por exemplo – consigo exercitar essa condição de otimismo. A meta é alinhar corpo e mente num estado equilibrado de saúde, algo que chamamos de coerência psico-fisiológica”, completa.

Tanto Filipe quanto Juliana alertam também para os excessos do chamado ‘positivismo tóxico’, responsável por transformar nossas emoções negativas em erros ou fraquezas. Além disso, não existe nada pior do que encontrar um otimista tóxico quando estamos enfrentando qualquer dificuldade pessoal ou profissional, algo sempre tão comum nos dias de hoje. Basta um simples scroll no mundo perfeito do Instagram para sentir os efeitos dessa toxina.

A psicóloga Martha Leticia Aguirre Quintero, consultora em psicologia da USP e mestre em neurociências e comportamento explica algumas maneiras de combatermos o pessimismo. “Há técnicas cognitivas, dentro da psicologia positiva, onde aprendemos a tentar reverter o pessimismo. A primeira delas é detectar os pensamentos negativos logo que surgem e, a partir daí, praticar tarefas simples, como por exemplo fazer uma lista sobre todas as coisas boas que aconteceram naquele dia. Isso também pode ajudar a desenvolver a gratidão e, ainda, a compaixão, a medida que refletimos e aceitamos nossas ‘falhas’. São exercícios que podem se tornar uma prática diária na busca pelo otimismo”.

Entre o pessimismo catastrófico e o otimismo exagerado há ainda uma outra solução interessante: o chamado ‘otimismo trágico’, definição criada pelo psicólogo (e sobrevivente do Holocausto) Viktor Frankl em 1985, em seu livro ‘O Homem em Busca de um Sentido’ (Ed. Lua de Papel). A ideia detrás do otimismo trágico é entender que há espaço tanto para o bom como para o mal, mas em ambos cenários podemos crescer e evoluir.

Leia a matéria completa em: https://vogue.globo.com/vogue-wellness/noticia/2021/12/amanha-sera-um-lindo-dia.html

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