Os testes psicotécnicos feitos para se obter carteira de habilitação, e aqueles aplicados por grandes empresas nos processos de seleção de pessoal são exemplos cotidianos de avaliação psicológica. O exame psicológico, que pode ser feito destas e de outras maneiras – e com fins variados – são o foco de estudos do Laboratório de Técnicas de Exame Psicológico (Litep) do Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Coordenadora do laboratório, a professora Iraí Cristina Boccato Alves ressalta que, pela lei que regulamenta a profissão, o uso de testes é a única atividade privativa do psicólogo. “No início, os testes eram muito valorizados dentro da psicologia. Depois surgiram outras vertentes que achavam que eles rotulavam, o que poderia prejudicar as pessoas. Ainda existem áreas que contestam o uso de testes, mas que muitas vezes têm uma visão distorcida: acham que com o teste se obtém um total de pontos, classifica-se, e pronto”, conta a professora, esclarecendo que esta é uma visão simplista.
“Há toda uma avaliação qualitativa e interpretação integrada dos dados – não se aplica o teste isolado, é feito um processo diagnóstico com uma série de técnicas, como entrevista e observação, para se ter uma visão mais completa da pessoa avaliada”, explica. As atividades do Litep incluem pesquisas de mestrado, doutorado e iniciação científica, pesquisas individuais dos professores integrantes, e estudos feitos em conjunto.
No momento, a professora Iraí busca, com a colaboração de alunos e outros pesquisadores, padronizar o Teste de Bender, que avalia a organização percepto-motora em crianças de cinco a dez anos – fator importante para a aprendizagem de leitura e escrita. Professora Irai Cristina Boccato Alves, coordenadora do Litep. “Padronizar é criar normas; ou seja, estabelecer as tabelas que serão consultadas para se fazer a interpretação dos testes realizados.
Isso é feito aplicando-se o teste a uma amostra representativa da população, para saber o que é esperado, o que é normal, e assim por diante”, explica a docente, acrescentando que existem outras pesquisas brasileiras sobre o assunto, mas antigas – daí a necessidade de atualização, entre outras coisas, para que as tabelas sejam adaptadas ao contexto cultural e social de hoje. A partir dos resultados, será publicado um manual do teste, que precisará passar pela comissão consultiva do Conselho Federal de Psicologia antes de ser usado. O desenho da figura humana em adultos é mais um estudo de Iraí, que visa saber quais as características representadas nestes desenhos entre as pessoas normais.
Normal neste caso, como esclarece Iraí, não é o perfeito, mas aquilo que é mais frequente, e está dentro da média. “Alguém desenha uma pessoa com uma nuvem acima da cabeça. É normal ou anormal? Se isto aparece com muita frequência na população, é normal. Mas se um em um milhão desenha deste modo, então isto tem um significado especial, e vamos ver o que pode ser.” Um outro projeto, entre os principais realizados no laboratório, é o Banco de dados das pesquisas brasileiras sobre técnicas de exames psicológicos. “Queremos levantar e classificar todas as pesquisas que conseguirmos localizar sobre técnicas de exame, o que não inclui apenas testes, mas entrevistas, dinâmicas de grupo, observação.”
A intenção, segundo Iraí, é poder prestar serviço a pessoas que procurem referências. O banco vem sendo atualizado constantemente, e para ter acesso a suas informações é preciso entrar em contato pelo telefone (11) 3091-4185/4352, ramal 222, ou email: liteppsa@edu.usp.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. . Histórico A área de psicologia que lida com testes começou a se desenvolver principalmente a partir de 1905, quando o médico francês Alfred Binet foi convidado para cuidar do ensino de crianças com deficiência mental. Para estabelecer quais apresentavam tal deficiência, era necessário um critério, e assim foi criado o primeiro teste de inteligência para crianças.
A partir daí, o campo teve vários desenvolvimentos até chegar aos dias de hoje, em que existem, além dos testes de inteligência, aqueles que avaliam a personalidade (se agressiva, emotiva, tímida, impulsiva ou extrovertida, por exemplo); os interesses profissionais; e as aptidões da pessoa, entre outros. “O teste é um instrumento para a avaliação de forma mais rápida, e muitas vezes fornece informação de maneira mais objetiva que uma entrevista, já que a entrevista a pessoa pode tentar burlar. Como em um processo de seleção para empregos: às vezes a empresa contrata alguém e depois é que vai perceber que a pessoa não era nada daquilo que demonstrou na entrevista. Os testes incluem questões que podem demonstrar se a pessoa tentou falsear os resultados”, comenta a professora.
Por Luiza Caires / USP Online
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