29 set 2006

Nossa repórter visitou duas casas
de jogos eletrônicos e se impressionou ao ver como essa brincadeira pode se tornar um vício!

Por Bruna Magarotti

            Passa da meia-noite de sexta-feira, 4 de agosto. Estou em uma lan house (casas de jogos eletrônicos e acesso à internet) de um bairro na periferia de Sorocaba,  São Paulo. Vejo 80 computadores espalhados pelo local. Mais de 50 são ocupados por jovens entre 11 e 30 anos. Olhos vidrados no jogo Counter Strike, vence quem sobrevive aos tiroteios e mata o adversário.
            Línguas de fora e pés inquietos revelam a tensão dos meninos. Palavrões são disparados aos montes. Breno Perez, 11 anos, é um dos freqüentadores do local. Ele sempre está ali, nos corujões (sessões de jogos na madrugada). “Quando minha mãe deixa, combino e venho com os amigos”, diz, empolgado.
            Em outro dia, mais cedo, vou até a Urbana Lan House, na Saúde, em São Paulo. Lá, 40 clientes ocupam a sala que tem paredes forradas de cartazes de jogos e não está escura como o corujão. O clima é de paz, mas um adolescente parece culpado por estar ali. Pedro Silva, 17 anos, se diverte com um jogo chamado Tíbia. Preocupado, pede para não ser fotografado pela reportagem. “Estou matando a aula chata de matemática”, diz.

            Pais devem ficar atentos
            Essa vontade de jogar além do limite é preocupante. Segundo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do grupo de dependentes da internet do Hospital das Clínicas de São Paulo, os jogos on-line e a internet fazem mal quando os jovens trocam as interações reais pelas virtuais. “O tempo médio para uma pessoa passar jogando no computador é de 25 horas por mês. Os viciados chegam a ficar mais de 25 horas por semana”, afirma o especialista.
            O problema ainda pode piorar. “E fica mais grave quando a pessoa só se sente bem dentro da identidade que criou no jogo ou no chat”, alerta o psicólogo Erick Itakura, do Núcleo de Pesquisa em Psicologia e Informática da PUC-SP.

            Casos sérios
            Marcelo Pinheiro, 14 anos, chegou a gastar R$ 80 em uma semana com a “brincadeira”. “Já fiquei de oito a dez horas por dia jogando, e ainda queria mais. Era viciado mesmo”, afirma o garoto. Ele, agora, consegue achar graça em outras coisas, como namorar e passear no shopping. Antes só queria jogar.  Taís Ferreira, 13, joga desde os 9. E adora.
            Em alguns casos, a vida desses jovens vira de cabeça para baixo. Alguns chegam a gastar toda a mesada e até furtam dinheiro dos pais para jogar. Por isso, é preciso ficar de olhos atentos para perceber se os bate-papos e os games de computador são apenas uma diversão. Ou se já viraram um vício.

Como identificar o vício

Se o adolescente
apresenta cinco destes oito sintomas,
procure ajuda

            1. Fala o tempo todo e com entusiasmo a respeito de jogos e computador.
            2. Tenta diminuir o tempo que passa jogando, mas não consegue.
            3. Mente a respeito do tempo que fica vidrado na tela do computador.
            4. Deixa de priorizar os amigos, a família e passa a viver em um mundo só dele.
            5. Busca na internet uma forma de se sentir mais vivo, feliz e completo.
            6. Quando o uso é limitado, se irrita facilmente e se torna mais agressivo.
            7. Demonstra ser uma pessoa triste, depressiva e com alto grau de ansiedade.
            8. O tempo que passa conectado nunca é suficiente. Quer sempre mais…

Como fugir desse perigo

Simples  ações podem
fazer com que o seu filho não se torne
um dependente do jogo

            Fique atenta e seja cuidadosa. “Se quiser proibi-lo de jogar, não deixe de oferecer mais carinho e atenção a ele”, ensina Francisco Assumpção Baptista Júnior, professor do Departamento de Psicologia Clínica da USP. Porém, se o garoto ou a garota gostam muito, libere. Mas controle o tempo gasto na frente das máquinas e deixe claro que tem hora para tudo: estudar, cumprir obrigações e também se divertir. Saber quem são os amigos dele e sempre manter diálogo também são fatores essenciais. “A mãe deve visitar uma lan house e ver como é o ambiente do lugar”, diz Itakura. Se o seu filho é um jogador e apresenta insegurança emocional, dificuldade em aceitar a realidade e toma atitudes imaturas, pode se tornar um compulsivo.

Onde procurar ajuda

Há diversas formas de buscar
apoio especializado. Veja aqui

            Jogadores Anônimos do Brasil
            A entidade está presente em todo o país. Por meio de um programa de 12 passos, jogadores buscam se livrar do terrível hábito. Telefone: (21) 2516-4672. Site: www.jogadoresanonimos.org.br.

            Dependentes da Internet do Ambulatório dos Transtornos do Impulso do HC de São Paulo
            Especialistas diagnosticam qual o grau do vício e oferecem tratamento. Telefone: (11) 3069-7805.

            Por meio de encontros, psicólogos indicam tratamento adequado.  A clínica indica especialistas em todo o país. E-mail: clinica@pucsp.br.

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