09/11/2018 - 09/11/2018 9h às 17h - Sala Alfredo Bosi - Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo - Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo, SP

Grupo de Pesquisa Mitopoética da Cidade (IP-USP) | Grupo de Pesquisa Política Ambiental (IEA-USP) | Grupo de Pesquisa Filosofia da Paisagem (CFUL)

Sala Alfredo Bosi - Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo - Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo, SP

“Balsa da Medusa” Théodore Géricault, 1819. A imagem de Géricault se refere ao naufrágio da fragata françesa Medusa ocorrido na costa da Africa em 1816 e representa a decadência civilizacional e a perda do ethos numa situação extrema e desastrosa.

APRESENTAÇÃO:

“Se bem que haja que preservar o que puder ser preservado do mundo natural, da Terra, da biodiversidade e dos recursos naturais, o que verdadeiramente urge, até como condição para tal, é uma mudança de civilização e esta só pode vir de uma mutação radical da consciência ou do regime de experiência e percepção da chamada realidade.” (Paulo A. E Borges: Abertura da Consciencia e Mudança de Civilização. Repensar a Natureza, a Terra e Eros a partir de Hesíodo.)

 

O Seminário Internacional A Paisagem como Paradigma Político é uma iniciativa conjunta dos Grupos de Pesquisa Mitopoética da Cidade (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo / IPUSP), Política Ambiental (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo / IEA) e Filosofia da Paisagem (Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa / CFUL). Em sua primeira edição, ocorrida no IEA-USP em novembro de 2017, discutiu-se o tema Corpo e Paisagem na Época das Imagens Técnicas; em continuação, apresenta-se agora o II Seminário Internacional A Paisagem como Paradigma Político: Ética, Tempo e Civilização.

Atualmente, são inegáveis os sinais de decadência de ordem política, ética e sobretudo ecológica patenteando, a cada dia com maior clareza, uma crise da civilização ocidental. Ora, considerando-se o caráter expansivo e pervasivo desta (nossa) civilização, que hoje alcança em algum grau todas as sociedades existentes na Terra, pode-se mesmo falar em uma crise planetária. Os efeitos avassaladores desta crise atingem não apenas as condutas e valores, mas também os fundamentos primordiais da construção e representação da realidade e mesmo da mundivivência de todos nós, partícipes desta civilização e, neste sentido, não é um exagero considerá-la como uma profunda crise ontológica.

Trata-se de uma crise essencialmente diferente de todas as anteriores – é uma simplificação grosseira compará-la, por exemplo, às crises políticas e sociais que culminaram nas grandes guerras autofágicas da civilização ocidental durante a primeira metade do século 20 ou, e ainda menos, reduzí-la à assim chamada crise econômica e financeira que abalou a primeira década do século 21.

É preciso ter uma rara coragem para reconhecer que estamos vivendo uma crise do mundo humano, desencadeada pelo desmesurado crescimento populacional de nossa espécie conjugado com a adoção predominante de um modo de vida que é, para dizer o mínimo, insustentável econômica e ecologicamente – estamos consumindo, esgotando, devastando, degenerando, nossa própria casa! E esta crise do mundo humano não atinge apenas a nossa espécie: ao degenerar o planeta, estamos condenando à miséria todos os demais seres vivos que o coabitam conosco – daí que alguns intelectuais venham designado esta nossa era (esta era durante a qual nossa espécie, o Homo sapiens, domina a Terra) como Antropoceno, sendo a força humana caracterizada como equivalente a uma força tectônica, uma força incontrolável e capaz de provocar uma catástrofe irreversível e de ordem global.  Esta visão de que se trata de uma força incontrolável encontra apoio no retorno incessante – à despeito de muitos os esforços em contrário – de pensamentos de exclusão e opressão contra a multiplicidade do viver e da persistência e agravamento da voracidade predatória do humano demasiado humano.

Diante deste quadro, paira hoje sobre muitos de nós uma dúvida, profunda e inquietante como nunca antes: devemos, mesmo, ainda tentar preservar e defender uma civilização que está destruindo o planeta inteiro e se recolhe nas mais anacrônicas e brutas estruturas sociais e políticas? O II Seminário Internacional A Paisagem como Paradigma Político: Ética, Tempo e Civilização pretende abrir um debate em torno desta dúvida. Com tal intuito, convidamos quatro pensadores a pronunciarem-se e debaterem, entre si e com o público, as seguintes questões:

  • O que há de especial na crise hodierna, ou melhor: qual sua origem, sua essência, as condições que a engendram e sustentam?
  • Quais seriam as possibilidades e os limites da ação humana para a superação desta crise?

 

PROGRAMA:

9 horas: Abertura, com a palavra dos organizadores:

  • Eda Tassara (IEA)
  • Sandra Patrício (IPUSP)
  • Dirk Michael Hennrich (CFUL)

 

10 horas: Conferência principal: Dr. Paulo A. E. Borges (Universidade de Lisboa)

Abertura da Consciência e Mudança de Civilização. Repensar a Natureza, a Terra e Eros a partir de Hesíodo

  • Durante a conferência, o público poderá encaminhar questões (por escrito) que serão selecionadas e respondidas pelo professor ao final de sua conferência

 

12 – 14 horas: Intervalo para o almoço

 

14 – 14:30 horas: Exibição do fotofilme documentário “Povo da Lua, Povo do Sangue” (Marcello G. Tassara, 1984).

  • O material utilizado neste filme foi obtido por Cláudia Andujar no território da nação Yanomami entre 1972 e 1982. Ao final da exibição, o diretor do filme, Dr. Marcello G. Tassara, comentará detalhes de sua realização.

 

14:40 – 15 horas: Dra. Sandra Patrício – Uma perspectiva para a compreensão do ethos humano

 

15 – 15:20 horas: Dr. Dirk Michael Hennrich – A crise ontologica e as políticas do sensível.

 

15:20 – 15:40 horas: Dra. Eda Tassara – Notícias dos povos indígenas

 

15:40 – 16 horas: Dr. Paulo A. E. Borges – Reflexões ad hoc

 

16 – 17 horas: Diálogo dos palestrantes com o público presente.

 

  • Os organizadores propõem uma inversão (subversão?) da dinâmica corriqueira dos eventos acadêmico-científicos: em vez de responder perguntas, queremos ouvir (e comentar) respostas do público às seguintes questões:
    • Como repensar e transformar as percepções e representações vigentes atualmente quanto ao tempo?
    • De que modo as temporalidades vigentes vinculam-se a uma dinâmica escatológica? Podemos romper esta vinculação?
    • Como pensar para além do dualismo polêmico entre o natural e o cultural, a Natureza e a Cultura?
    • Como repensar e transformar o significado do ethos, do nosso modo de habitar e respirar na Terra?
    • O que compõe uma autêntica po-ética da vida e do viver na Terra?
    • Como introduzir no mundo, hoje, uma política do sensível, à qual pertence o cuidar dos corpos, das paisagens e da multiplicidade de linguagens?
    • Como a ciência está, ou poderia estar, ajudando a responder estas questões?
    • Que transformações isto tudo poderia trazer para a Ética? E para a política?

 

Sobre os palestrantes:

Dirk-Michael Hennrich: Concluiu o seu doutoramento na Universidade de Lisboa em 2014. Possui mestrado em Filosofia da Universität Basel / Suiça (2003), onde estudou Filosofia, Literatura Alemã e História Moderna. Foi Investigador em Cultura Portuguesa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e, atualmente, é membro integrado do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e bolsista de pós-doutoramento da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia. É colaborador do Grupo de Pesquisa Mitopoética da Cidade (IPUSP), CISC –  Centro Interdisciplinar e Semiótica da Cultura e da Mídia (PUC-São Paulo) e do CEPP – Centro de Estudos do Pensamento Português (Universidade Católica do Porto) e membro do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (IFLB). Atua principalmente no âmbito da Filosofia do século 19 e 20, do Pré-Romantismo, do Idealismo Alemão, na área da Filosofia da Paisagem, da Filosofia em Portugal e no Brasil e da Filosofia das Mídias.

 

Eda Terezinha de Oliveira Tassara: Professora Emérita da Universidade de São Paulo. Física e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), com Pós-doutoramento (FAPESP) no Departamento de Física da Universidade de Pisa (Itália). Professora Visitante das Universidades de Pisa (INFN), Paris VII (USP-COFECUB), École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS) e Popular Autônoma do Estado de Puebla (CONACYT-UPAEP). Professora Titular em Psicologia Socioambiental pelo Instituto de Psicologia da USP. Presidente do IBECC-Instituto Brasileiro de Educação Ciência e Cultura / UNESCO Comissão Estadual de São Paulo. Orientadora de Programas de Pós-graduação da USP, foi propositora (IPUSP-PST) e coordena, desde 1998, Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção, onde desenvolve projetos de pesquisa de âmbito nacional e internacional. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Política Ambiental do Instituto de Estudos Avançados da USP. Tem diversas publicações nas áreas de Psicologia Social, Política Ambiental e Política e Crítica da Ciência e da Cultura.

 

Marcello Giovanni Tassara: Graduado em Física pela USP e em Publicidade pela ESPM, professor co-fundador do curso de Cinema da ECA/USP, tendo introduzido a área de Cinema de Animação nos estudos acadêmicos universitários no Brasil. Defendeu por notoriedade tese de doutoramento em Artes/Cinema na ECA, tendo orientado teses e dissertações na Universidade de São Paulo e na Universidade Anhembi-Morumbi. Nesta última, colaborou na proposição e implementação de seu Programa de Pós-Graduação em Comunicações. Foi professor visitante na Università degli Studi di Pisa (Itália), Universitat Autònoma de Barcelona (Espanha), Universidade Livre de Berlim e EHESS Ecole de Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris; Pesquisador em Instituições Acadêmico-Científicas na França, Itália e Reino Unido. Como cineasta (diretor e roteirista), desenvolveu filmografia composta, até agora, de cerca de 70 filmes de curta, média e longa-metragem, tendo recebido prêmios no Brasil e no exterior. Como pesquisador atuou no campo da inovação em linguagem cinematográfica (com bolsa de pesquisador nível 1 do CNPq durante vários anos), aplicando-a em narrativas documentais, experimentais, científicas e educativas. Foi co-responsável pela proposição de um laboratório de mídias digitais inicialmente junto à ECA/USP e, atualmente, no Instituto de Física daquela Universidade. É membro da Comissão Assessora da IPTV da USP; consultor da UNESCO e de outras instituições acadêmicas e governamentais.

 

Paulo A. E. Borges: Professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Ensina Filosofia da Religião, Pensamento Oriental, Filosofia e Meditação, Filosofia e Literatura e Antropologia Filosófica. Além destas áreas, investiga e publica nas áreas de Pensamento e Cultura Luso-Brasileiros e de Filosofia da Natureza. Membro correspondente da Academia Brasileira de Filosofia. Director da revista Todo o Mundo ENTRE Ninguém (ex-Cultura ENTRE Culturas). Sócio-fundador e ex-membro da Direcção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Ex-presidente (2005-2013) e membro da Direcção da Associação Agostinho da Silva. Sócio-fundador e ex-presidente (2002-2014) da Direcção da União Budista Portuguesa. Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sociedade de Ética Ambiental. Sócio-fundador e presidente do Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética. Membro do grupo de investigação internacional sobre a obra de Emil Cioran, sediado na Universidade L’Orientale de Nápoles.  Membro do grupo de investigação internacional Saudade.  Coordenador do Seminário Permanente Vita Contemplativa. Práticas Contemplativas e Cultura Contemporânea, no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Doutor Honoris Causa pela Universidade Tibiscus de Timisoara, Roménia, em 2017. Autor de centenas de comunicações e conferências (cerca de 400), artigos e outros textos em revistas científicas (180) e obras colectivas (130), publicados em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Roménia, Turquia, EUA e Brasil.

 

Sandra Patrício: Professora Associada do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP. Bacharel em Psicologia (1997) e Psicóloga (1998) pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; Mestre (2001), doutora em Psicologia Social (2008) e Livre Docente (2018) pelo Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do IP-USP. Tem experiência na docência e na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social e na Formação do Psicólogo, atuando principalmente nos seguintes temas: ethos humano, intersubjetividade, mitopoética, memória, imaginário e paisagem. Atualmente, é vice-coordenadora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Intervenção (Lapsi – IPUSP), líder do Grupo de Pesquisa “Mitopoética da Cidade” e membro colaborador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.