10 jul 2021

A necessidade de isolamento por causa da pandemia modificou profundamente o dia a dia de crianças e adolescentes. Uma geração se reconhece pela música que escuta, causas que defende, tragédias que testemunha, crises ou avanços. Os que nasceram ou estão crescendo nesses anos de Covid vão levar a marca da história, e uma sensação de que a própria estreia ficou adiada.

“É o momento de novos inícios. De um primeiro toque, de um primeiro beijo, de uma primeira vez que você vai naquele lugar, que tem aquela festa, e isso realmente é difícil de transpor para o ambiente da tela né”, explica o psicanalista brasileiro Christian Dunker.

O que separa uma geração da outra pode ser a porta fechada do quarto. Para os psicanalistas, um símbolo da busca de autonomia em relação aos pais ou à família de origem. Mas para os filhos da pandemia, ficar trancado no quarto deixou de ser um desejo para virar quase uma sentença. A Organização Mundial da Saúde, universidades e institutos no mundo todo buscam medir os impactos desses tempos no que chamam de Geração Covid.

Na análise do professor do instituto de psicologia da USP, Christian Dunker, a perda é só o começo: “Ela pode ser elaborada, ela pode ser superada. Num desejo de ultrapassar, num desejo de restaurar, que pode muito bem acontecer também com essa geração. Por uma sobrevalorização dos laços, Será que essa geração vai inventar assim um outro modo de dar mais importância para isso?”

Muitos alunos estão atrasados, mas o valor da escola foi uma lição.

“Eu quando estava na escola me sentia bem mais feliz”, diz a aluna de 8 anos.

“Eu aprendo a escrever varias coisas e eu posso até escrever uma carta”, concorda sua coleguinha.

A publicitária Maria Travitzki voltou para sala de aula para ajudar a reescrever a história de alunos que beiravam a evasão.

“A gente aprende muito, sai dessa caixinha de cada um, da sua realidade individual. Olha que existem milhares de problemas, milhares de pessoas, milhares de realidades e a gente pode fazer alguma coisa, acho que isso é muito importante”, disse.

A agenda da terapeuta voluntária está lotada. Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da USP, com quase sete mil crianças e adolescentes, mostrou que 26% deles estão passando por quadros de ansiedade ou depressão.

“A vida de um jovem está diretamente relacionada a sair de casa, a socializar. Eles estão nessa fase de se individualizarem enquanto pessoa e se reconhecer no mundo. Então, não poder fazer parte desse mundo nesse momento, nessa fase da juventude, é o maior sofrimento que o jovem poderia ter na vida”, explica a psicóloga Renata Madeira.

A angústia levou o Gabriel para terapia.

“Não sinto mais aquela paixão, aquela vontade de ir pra algum lugar”, afirma Gabriel Alexandre da Silva, de 18 anos.

Mas já dá para apostar que ele vai sair melhor desse quarto.

“Poxa eu sinto saudade de ver meu amigo, cumprimentar e abraçar e dar aquele abraço apertado e falar: ‘Mano, como você está? Eu estou bem, que maravilha’. Acho que depois desse momento de pandemia eu sinto, eu espero, na verdade, que eu crie laços mais fortes com as pessoas, que eu crie novos amigos, que saiba lidar melhor com as pessoas e que elas façam parte da minha vida de maneira muito mais marcante”, completa.

Publicado originalmente no Jornal Nacional

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