Este laboratório dedica-se ao estudo das bases neurais da visão. O interesse central é o estudo dos mecanismos neurais da visão de cores, principalmente o da visão no ultravioleta em vertebrados. Essa capacidade, conhecida antes só em artrópodes, foi descoberta recentemente em vertebrados, tendo sido demonstrada em aves, peixes, répteis e até em alguns mamíferos. Parece que talvez apenas os primatas sejam exceção. Sua descoberta suscitou muitas perguntas: como é utilizada no comportamento do animal? porque surgiu na evolução? como modifica o conhecimento sobre o processamento neural da visão de cores na retina e no sistema nervoso central? Serão tetra- ou pentacromáticos os peixes, répteis e aves antes tidos como tricromáticos (com três receptores, como o homem)? Vários projetos estão sendo conduzidos no laboratório utilizando peixe e tartaruga para examinar as respostas eletrofisiológicas de diferentes neurônios da retina às cores do espectro e utilizando beija-flor para estudar a capacidade de discriminação de cores.

O conhecimento de como funciona a retina normal permite também que esta sirva de modelo para estudar determinadas patologias. Em estreita conexão com o trabalho do Laboratório da Visão: Psicofísica e Eletrofisiologia Visual Clínica, estamos desenvolvendo um modelo animal para o estudo da contaminação por mercúrio na retina.

Mecanismos Visuais Básicos – Visão de Cores

  • A capacidade de ver no UV

No início da década de 70 descobriu-se quase por acaso que o pombo conseguia distinguir entre duas luzes brancas que eram idênticas para o observador humano, uma contendo a faixa do UV e outra não. A eliminação do UV era feita com um filtro que bloqueava esses componentes. O pombo, que recebia alimento se bicasse na luz que continha UV e não era reforçado quando bicava na outra, foi capaz de um desempenho discriminativo com 100% de acerto (Wright, 1972). O mesmo foi confirmado, treinando-se o pombo para receber reforço na luz sem UV. A descoberta da capacidade de discriminar estímulos com e sem UV foi inesperada pois acreditava-se que essa habilidade, demonstrada muito antes em abelhas e outros insetos, e também em crustáceos e invertebrados em geral, fosse restrita aos invertebrados.

Embora o achado tenha ocorrido há quase 30 anos, durante os anos 70 quase não houve progresso, apenas um estudo em 1978 confirmando com maiores detalhes que pombos discriminam no UV. Foi a partir da década de 80 que surgiram numerosos estudos procurando responder perguntas geradas por esta descoberta.

Mecanismos neurais, comportamento, utilidade

  • Os fotorreceptores

A primeira das perguntas consiste em demonstrar que existe um fotorreceptor UV, com capacidade de máxima de absorção de luz no ultravioleta, além dos fotorreceptores do azul, verde e vermelho, conhecidos desde os anos 60. A identificação espectral de um fotorreceptor pode ser realizada de diferentes formas complementares. A microespectrofotometria fornece a descrição da curva de absorção do fotopigmento e da gotícula de óleo, dependendo da espécie; pela eletrofisiologia conhece-se a saída elétrica da célula, ou seja, a mensagem que ela envia à célula seguinte; finalmente técnicas morfológicas associadas às fisiológicas permitem saber em que neurônio foram obtidas as respostas fisiológicas.

  • Processamento na retina

Além de identificar o fotorreceptor do UV, é também preciso conhecer o desempenho das outras células da retina quando se acrescenta a região do UV aos demais estímulos espectrais. Que tipos de codificadores cromáticos passariam a existir? Em que tipos celulares existiria tetracromacia? Em que células é encontrada oponência de resposta entre a região do UV e as demais?

  • Comportamento

Em ainda outro nível, o conhecimento da sensibilidade espectral e da capacidade de discriminação de cores através do comportamento pode confirmar ou sugerir hipóteses sobre os mecanismos de integração neural.

  • Valor funcional para a espécie

Finalmente, um exame dos estímulos naturais mais relevantes para os animais estudados, tais como os objetos de forrageamento (flores, insetos) e a aparência cromática de co-específicos (padrões coloridos em aves, peixes, répteis ) pode fornecer indícios sobre aspectos funcionais da visão de cores.