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O objetivo geral do Inter Psi – Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais é realizar estudos e pesquisas interdisciplinares no ponto de intersecção entre a Psicologia Social e a Psicologia Anomalística, ou seja a avaliação psicossocial de experiências humanas alegadamente anômalas. Considera-se uma experiência alegadamente anômala aquela que apontaria para um processo de interação entre os indivíduos, e entre esses e o meio, caracterizado por sua aparente inexplicabilidade dentro dos quadros teóricos do mainstream científico. “Experiências anômalas ou ‘paranormais’ são definidas, ainda, como experiências incomuns, irregulares, ou que, apesar de poderem ser vivenciadas por uma parcela substancial da população, são interpretadas como desviantes da experiência ordinária ou das explicações geralmente aceitas para a compreensão da realidade” (Cardeña, Lynn & Krippner, 2000).

Dentre as experiências listadas como anômalas destacam-se as experiências fora-do-corpo, as experiências próximas da morte, as experiências alucinatórias, as experiências sinestésicas, as experiências de sonhos lúcidos, as experiências de percepção extra-sensorial, as experiências extra-motoras e as experiências místicas ou espirituais. Tais experiências são objeto de estudo da chamada Psicologia Anomalística, cujas raízes históricas remontam aos princípios da Psicologia.

O Inter Psi – Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais tem como interesse prioritário a avaliação das experiências alegadamente anômalas e de suas repercussões individuais e grupais a partir do uso das ferramentas conceituais e metodológicas da Psicologia Social, investigando:

1. os aspectos ou variáveis psicossociais tais como crenças, valores, atitudes e atribuição de causalidade relacionados às experiências anômalas. O interesse se centra não nas possíveis causas ontológicas das experiências, mas em sua repercussão psicossocial, nos quais os aspectos apontados (crenças, valores, atitudes e atribuição de causalidade) se tornam fundamentais na tentativa de compreensão das experiências alegadamente anômalas na relação indivíduo-grupo. Aqui as perguntas poderiam ser: como as experiências alegadamente anômalas se relacionam com as crenças paranormais?; como compreender psicologicamente as crenças paranormais?; como tais crenças se tornam compartilhadas?; os valores e atitudes de um indivíduo poderiam ter alguma relação com tais experiências e crenças?

2. a importância que as experiências anômalas assumem em determinados contextos culturais, notadamente o religioso. Reconhecendo, com estudiosos das religiões, que as experiências alegadamente anômalas poderiam estar na origem de manifestações interpretadas como religiosas (ou sobrenaturais) em determinados contextos culturais, o objetivo aqui é o de investigar, desde o ponto de vista da Psicologia Social, a importância que as experiências alegadamente anômalas assumem na origem e manutenção de crenças religiosas para indivíduos e grupos. Como uma experiência alegadamente anômala é interpretada? Como ela assume uma interpretação religiosa? Qual a relação entre tais experiências e a institucionalização de crenças religiosas?

3. a utilização de argumentos favoráveis e desfavoráveis à da existência de uma anomalia real por trás das experiências anômalas por parte de representantes de diferentes agrupamentos sociais e sua repercussão à Psicologia. O que se pretende é uma crítica desses argumentos não em seu fundamento ontológico, de modo que o laboratório não se ocupará da avaliação das “evidências favoráveis” ou “desfavoráveis” em si, mas de seu uso grupal, seu caráter psicossocial. Buscar-se-á encontrar as agendas epistemológicas subjacentes a cada uma das posturas assumidas no embate público acerca dessas alegações. Trata-se, aqui, muito mais do que encontrar as “verdadeiras ou falsas evidências”, encontrar os contextos dos discursos e suas repercussões científicas e sociais. A que tipo de demandas esses discursos atendem? Quais são os interesses grupais (religiosos?; acadêmicos?…) que permeariam tal disputa? Quem são os agentes (místicos?; cientistas? charlatães?…) desses argumentos e a que tipo de compromisso respondem? Como tais argumentos têm sido usados por psicólogos?