06 dez 2021

Por Camila Brandalise

Pamela Mendes começou em um emprego novo na pandemia. Trabalhando cerca de 14 horas por dia em um banco de investimentos, sem rede de apoio e com a filha em casa o dia todo, a mãe solo foi parar no hospital três vezes achando que estava morrendo. Com dor de cabeça e pressão alta, foi encaminhada ao psiquiatra e recebeu o diagnóstico: síndrome de Burnout. A pandemia também colaborou para que a assistente editorial Isis Ribeiro recebesse o mesmo diagnóstico. O cansaço, crises de choro e insônia ainda levaram Isis a pedir demissão.

Segundo pesquisa divulgada em setembro pelo Instituto Datafolha e feita a pedido da plataforma de saúde mental Zenklub, 68% das mulheres do país se sentiram sobrecarregadas com o trabalho durante a pandemia, contra 56% dos homens. Segundo a psicóloga do trabalho Maria da Conceição Uvaldo, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), essa sobrecarga pode ser o primeiro fator que eventualmente resulte na Síndrome de Burnout.

Para investigar como e por que esse esgotamento atinge as mulheres brasileiras de forma mais massiva, Universa foi a fundo no assunto e publica, essa semana, 5 reportagens sobre o tema, visto sob diversos ângulos: esta que você lê, sobre carreira; trabalho, relacionamentos, maternidade e ainda uma entrevista com a autora americana Anne Helen Petersen que, após uma experiência pessoal, escreveu o best seller “Não aguento mais não aguentar mais: Como os Millennials se tornaram a geração do burnout (ed. HarperCollins Brasil). O sucesso de vendas da publicação confirma o que especialistas ouvidos dizem: a sensação de esgotamento pode até não ser novidade, mas a preocupação em entender suas causas e soluções é um tema urgente.

O termo “burnout” (do inglês, esgotamento) surgiu em 1974 nos Estados Unidos, mas foi só de uns anos para cá que a palavra se popularizou no Brasil. A síndrome, que se refere à exaustão psíquica ligada ao trabalho, ficou ainda mais forte na pandemia, segundo especialistas ouvidos por Universa. Os dados também mostram que as mulheres são as mais impactadas.

A síndrome de burnout é considerada uma doença desde 2019 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), mas só fará parte da CID (Classificação Internacional de Doenças) na próxima revisão da lista, lançada em janeiro de 2022. Após o diagnóstico, é possível tirar uma licença do trabalho por causa da condição.

“Claro que todo mundo passa por cansaço e fadiga no trabalho, ou fica de saco cheio. Mas no caso do burnout, isso adoece a pessoa, que começa a trabalhar sem limites, não porque quer, mas por causa das necessidades que se colocam em sua vida”, explica Uvaldo.

“As empresas já entendem que o funcionário precisa se afastar da sua função, mas, no geral, não sabem lidar com o problema. É uma questão que tem muito menos a ver com o indivíduo em si e mais com a organização do trabalho e ao que a vida profissional representa, como produzir cada vez mais.”

Por que o burnout afeta mais as mulheres?

Um relatório divulgado pela consultoria McKinsey em setembro deste ano nos Estados Unidos mostra que 42% das mulheres afirmam se sentir esgotadas frequentemente ou quase sempre durante a pandemia. O índice é 10% maior do que antes da crise sanitária. Entre os homens, o número, em 2021, foi de 35%. O estudo entrevistou 65 mil pessoas de 423 organizações.

“À medida que as empresas continuam a gerenciar os desafios da pandemia e procuram construir um local de trabalho mais igualitário para o futuro, elas precisam se concentrar em duas prioridades principais. Primeiro a de promover todos os aspectos da diversidade e inclusão. Depois, de lidar com o desgaste crescente que todos os funcionários – mas principalmente as mulheres – estão experimentando “, afirma o relatório.

Uvaldo aponta que a estrutura de trabalho é um lugar de adoecimento para a população feminina. “Sabemos que há o machismo e que muitas mulheres precisam se ‘masculinizar’ para serem reconhecidas. Precisam fazer o dobro, provar que são capazes. Isso é desgastante”, afirma.

Apesar de jornada contínua e os cuidados com casa e família trazerem peso extra para a maioria das mulheres, a médica Rosylane Rocha, presidente da ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho) afirma que o trabalho doméstico não entra no diagnóstico do burnout, pois não considera turnos além das tarefas de casa e de cuidados com a família.

“Mas tais tarefas consomem energia e também figuram como fator estressor que se somam às atividades laborais. Assim, geram na mulher efeitos de fadiga e irritabilidade, levando a alterações do sono e apetite, além de problemas nas relações interpessoais. Se a mulher está com burnout, o excesso de tarefas e compromissos domésticos agravam o estado no todo”, explica.

Para Paula Castilho, sócia da McKinsey no Brasil, a diferença entre o desgaste da população masculina e feminina fica mais evidente entre as mães. “Elas são duas vezes propensas do que os pais a se preocupar que suas responsabilidades de cuidadores resultem em julgamentos negativos de seu desempenho profissional. Com isso, um terço das mães, versus um quarto dos pais, estão pensando em deixar a força de trabalho ou ‘desacelerar’ suas carreiras”, afirma, citando estudos da empresa feito nos Estados Unidos.

Leia a matéria completa em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/12/06/burnout-no-trabalho-mulheres-sao-as-mais-afetadas.htm

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