03 jun 2020

 

“O conteúdo a seguir contém cenas fortes e de violência”. Este é um aviso recorrente em obras de true crime, gênero cada vez mais presente no mundo do entretenimento. O termo significa algo como “crime de verdade” ou “crime real”, mas costuma ser utilizado em inglês mesmo, sem ser traduzido.

Diferente de filmes e livros baseados em histórias reais, a intenção do true crime é trazer casos verdadeiros, expor os detalhes dos crimes e o passo a passo das investigações. Esse estilo de não-ficção atrai cada vez mais fãs, mesmo que o tema aborde atrocidades, crimes hediondos e finais não muito felizes.

Os títulos de true crime acompanham casos reais e não apenas “baseado em fatos reais”: eles fazem parte de um gênero literário e cinematográfico de não-ficção no qual o autor examina um crime real e detalha as ações de pessoas verdadeiras.

O conteúdo dessas obras é, em sua maioria, jornalísticos: entrevistas, áudios de processos, gravações feitas em tribunais, imagens da cobertura da imprensa dos crimes e diversos outros. Uma tendência deste tipo de produção é a de dar voz aos criminosos e acusados, para que eles possam falar sobre seu lado da história e explicar a sua posição.

O crime mais comumente retratado é o de assassinato, com uma boa parte dos títulos focando em um assassino em série. A abordagem varia entre análise do perfil do criminoso, o desenrolar do caso – com detalhes sobre as investigações –, explicação do modus operandi (o método do criminoso), e até mesmo equívocos que possam ter acontecido no processo de análise do crime.

Como se trata da vida real, há casos que não apresentam nenhuma resolução concreta. O maior compromisso de um conteúdo true crime, portanto, não é chegar a uma resposta, mas sim expor a versão dos envolvidos – o que nem sempre é a verdade.

O interesse pelo gênero

As obras sobre o assunto não param de se multiplicar e isso acontece muito pelo interesse do público. Para o Prof. Dr. Avelino Rodrigues, do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, o interesse existe por se tratar da natureza humana e, ao ser consumido por meio de filmes, livros e séries, passa por um processo de sublimação, quando o conteúdo (não os crimes em si), passa a ser aceito e valorizado pela sociedade. “O prazer de assistir tais filmes resulta da identificação — não consciente — do espectador com o conteúdo do filme”.

Estes conteúdos destrutivos tendem a ser reprimidos, até para permitir o convívio social. Mas isto não faz que desapareçam. É aí que surge o mecanismo da sublimação. […] O ser humano contém muitas possibilidades construtivas, mas, também, destrutivas. Os conteúdos destrutivos emergem mas transformados em obras de arte — por exemplo, na forma dos filmes. […] Se este mecanismo fosse consciente seria rejeitado, mas não é assim que ocorre.

Segundo Ilana Casoy, criminóloga e autora de Arquivo Serial Killers – Made in Brazil (reeditado pela editora DarkSide Books em 2014) e Casos de Família (DarkSide Books, 2016), a curiosidade e o interesse pela mente humana é o que faz aumentar a procura por títulos do gênero.

Percebi que o público que gosta desse tipo de assunto ficou mais exigente e anseia por análises de comportamento das pessoas envolvidas com aquele crime – quem comete, investiga e reflete sobre eles, sem o velho maniqueísmo de polícia boa, bandido mau.

Para Mabê Bonafé, apresentadora do podcast Modus Operandi, a mídia é responsável pela disposição do público pelo gênero, uma vez que somos sempre bombardeados com informações do tipo: “Existe um sensacionalismo muito grande. Tudo o que acontece nesse sentido, a mídia gosta de criar uma situação, uma história, trazer muito o assunto”, explica.

A gente nasceu bombardeado de notícias desse tipo, como filmes de serial killers, então existe uma glamorização, que construiu o nosso pensamento para que a gente sentisse muito interesse nesse assunto. […] A gente criou, há muitas décadas atrás, filmes, séries… É impossível uma pessoa que tenha nascido nos anos 1980 ou 1990 não se interessar ou não ter visto alguma coisa sobre esse assunto.

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Por Fernanda Talarico

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