Escuta Preta, Tarja Preta, Núcleo Ayé e Coletivo Negro. Esses são alguns dos grupos criados por estudantes negros para estudantes negros da USP. São espaços de acolhimento, de compartilhamento e de luta. O desafio é mostrar que a universidade precisa se organizar para ser um local de e para todos. Desde 2017, a USP adotou como política institucional as cotas sociais e raciais na graduação. Isso significa reservar vagas nos processos de seleção para quem estuda em escola pública e ainda se autodeclare preto, pardo ou indígena (PPI).
Em 2020, a universidade registrou o índice de 47,8% de alunos matriculados vindos de escolas públicas em seus cursos de graduação. Entre eles, 44,1% autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. A principal preocupação dos coletivos é acolher quem está chegando e quem já estuda na USP. Mas não sem esquecer o combate ao racismo e à fraude na política de cotas.
Alguns desses coletivos relataram como é ser um aluno negro na USP e de suas lutas na vivência em uma das principais universidades públicas do País.
Coletivo Escuta Preta
O coletivo surgiu em 2019, criado majoritariamente por calouros do Instituto de Psicologia (IP) da USP, em São Paulo. “Questionávamos a falta de representatividade discente dentro do IP. Também criticamos a forma como a nossa grade curricular é estruturada, porque privilegia principalmente autores homens, brancos e europeus, que tratam de uma subjetividade muito específica do ser humano, com a qual a não nos vemos representados”, conta Alexia Oliveira, de 22 anos. Ela está no segundo ano do curso de Psicologia e foi uma das articuladoras do coletivo.
O grupo hoje é formado por 15 estudantes e busca por mais representatividade dentro do instituto, por uma formação antirracista. “Infelizmente, a nossa formação negligencia como as opressões de classe, raça e gênero interferem na escuta dos psicólogos, e a nossa pauta é que isso mude. Queremos uma formação que nos torne psicólogos críticos, que não se conforme com as opressões que existem na nossa sociedade e que consigamos passar isso pra outras pessoas e formar psicólogos anticolonialistas”, explica a estudante.
No ano passado, eles organizaram um debate sobre as cotas e, neste ano, a Primeira Semana de Psicologia Preta. O coletivo também funciona como um grupo de estudos. Antes da pandemia ocasionada pelo coronavírus, ocorria a discussão de livros considerados importantes, de autores como Neuza Santos, Franz Fanon e Grada Kilomba, pesquisadores da área de psicologia.
- Alexia Oliveira, de 22 anos, está no segundo ano do curso de Psicologia e foi uma das articuladoras do coletivo – Foto: Arquivo pessoal
A importância do coletivo pra mim é muito grande, foi um espaço que me acolheu. Conseguimos muitas oportunidades depois de formar o coletivo e aprendemos muito. Participar do Escuta Preta foi muito importante porque eu vi pessoas que passavam pelas mesmas situações que eu passava na universidade e que me acolhiam, me respeitavam e me motivavam a fazer todos os meus planos
Eles acreditam ser necessário aumentar o número de vagas destinadas às cotas raciais da graduação e criar a modalidade de cotas para a pós-graduação, que ainda não existe. Além disso, o grupo pretende se mobilizar para a realização de um vestibular indígena na Universidade. “Também pensamos em ter uma clínica preta dentro do instituto. Temos um sonho de sermos psicólogos que tenham uma formação voltada pra questão racial e que consigam prestar um atendimento adequado para a nossa população, que ainda é muito negligenciada em muitos atendimentos”, diz Alexia.
Clique e confira as redes sociais do coletivo:
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