29/11/2018 - 30/11/2018 9h às 12h - Auditório Carolina Bori - Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Cidade Universitária - São Paulo, SP

Alberto Filipe Araújo

Profa Sandra Patrício

Grupo de Pesquisa Mitopoética da Cidade

Auditório Carolina Bori - Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Cidade Universitária - São Paulo, SP

Convidado: Alberto Filipe Araújo
Professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade do Minho (Braga – Portugal). Membro do Centro de Investigação em Educação (CIEd) do Instituto de Educação da Universidade do Minho. Os seus principais domínios de interesse são os seguintes: Filosofia da Educação, Estudos do Imaginário e História das Ideias Educativas e Pedagógicas.

Programação:

29/11 – O Cântico do Silêncio em La flamme d’une chandelle de Gaston Bachelard

Resumo: Ainda que Bachelard não explicite o tema e a experiência do silêncio na sua La flamme d’une chandelle (A chama de uma vela – 1961), tal não significa que ela não nos permita procurar e refletir, dos pontos de vista da filosofia e do imaginário, sobre os vestígios/traços do silêncio implicados na obra à luz do par referido. Seguidamente refletiremos sobre a sua natureza, bem como o modo como esses mesmos vestígios estão relacionados com a narrativa desenvolvida pelo próprio Bachelard. Ao longo da leitura da obra interrogamo-nos, inúmeras vezes, se ela não nos remeteria para uma experiência, quase mística, do silêncio ainda que sem propriamente dele falar. Por outras palavras, desde o seu título, que poderia bem ser uma “metáfora viva” (Paul Ricoeur) do próprio silêncio, até ao seu desenvolvimento temático fomos naturalmente experienciando um sentimento cada vez maior da importância do silêncio e da solidão que o envolve quer para o estudar e o pensar, quer para o “devaneio poético” (Gaston Bachelard). E neste contexto impõe-se-nos perguntar até que ponto o silêncio não poderia já contribuir, de per se, para equilibrar o “sonhar os devaneios” e “pensar os pensamentos”: “Sonhar os devaneios e pensar os pensamentos, eis sem dúvida duas disciplinas difíceis a equilibrar” (Bachelard, 1984: 153). A resposta é que lendo o trabalho do autor é bem possível que possamos encontrar no silêncio um mediador credível entre a imagem (imaginação) e o conceito (ciência-filosofia). Neste contexto, aquilo que se pretende é escutar o modo como a experiência do silêncio está presente na obra, não no sentido psicologizante mas no seu sentido filosófico-hermenêutico. Procura-se, realmente, entender como o silêncio se encontra presente na articulação do discurso do autor, isto é, no modo como a narrativa se desenvolve, e também desvelar as formas de que esse mesmo silêncio reveste. Com este objetivo, procuraremos, ao longo da nossa conferência e num primeiro momento, rastrear, dos pontos de vista do imaginário (“sonhar os devaneios”) e da filosofia (“pensar os pensamentos”), passagens que de algum modo reflitam o silêncio nas suas manifestações, ainda que mais indizíveis, o que não é, como se admite, uma tarefa fácil porque o silêncio na obra encontra-se ao nível latente. Num segundo momento, procuraremos refletir, do ponto de vista filosófico-hermenêutico, sobre o conjunto de imagens recolhido sem, contudo, deixar de lado a dimensão educacional da reflexão realizada.

30/11 – Da Mitocrítica à Mitanálise. Um Contributo Mitodológico

Resumo: Ao longo da nossa prática hermenêutica realizada na perspetiva da mitodologia durandiana constatamos que a mitocrítica, com os seus conceitos operatórios, destinada à captação dos mitos nos textos literários não se adaptava à especificidade de textos fortemente ideologizados e pobres em espessura mítica, como são os textos educacionais e pedagógicos. Também não sendo nós sociólogos nem historiadores, a mitanálise não representa tão pouco uma contribuição particular, ou específica, na captação dos fluxos míticos que circulam, em maior ou menor grau, no interior dos textos educacionais saturados ideologicamente. Daí que a nossa posição epistemológico-hermenêutica seja a de utilizar, na falta de uma designação mais adequada à deteção do mítico nos textos educacionais ou afins, o conceito de mitanálise no seu sentido mais largo, tanto mais que toda a mitanálise é já o prolongamento de uma mitocrítica. Falaremos da mitocrítica e da mitanálise que constituem a “metodologia” de Gilbert Durand, sabendo que a primeira está vocacionada para captar e tratar os mitos e suas figuras patentes e latentes nos textos literários e poéticos, enquanto a segunda, desde o seu início, está orientada para detetar os mitos diretores que animam as sociedades ao longo do seu tempo e do seu espaço. Concluiremos com a necessidade de falar-se da “prova hermenêutica” no quadro da hermenêutica simbólica como é aquela que nos ocupa na perspetiva durandiana.