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Introdução

A percepção de uma crise ambiental, no sentido de uma crise dos recursos naturais que ameaça a própria existência humana, difundiu-se rapidamente desde os anos 1960, tornando-se representação social (Svartman & Massola, 2023) e fazendo com que os movimentos sociais ambientalistas projetassem valores na sociedade que se tornaram, já nos anos 1990, dominantes (Castells, 2018). Por outro lado, essa crise apresenta aspectos que ultrapassam largamente a disponibilidade de recursos e que trazem repercussões epistemológicas, políticas e culturais profundas, ameaçando a cisão entre natureza e cultura que está na base da matriz civilizatória do Ocidente (Guba, 1990) e permitindo entendê-la, mais que uma crise de recursos, como uma crise política da razão (Tassara, 2006).

A Psicologia Social (nas palavras de Fernandes, 1975) e a Psicologia Ambiental (Cavalcante & Elali, 2011) são campos fronteiriços que vêm se debruçando sobre algumas das consequências da crise ambiental. Essas áreas articulam-se à problemática ambiental, por vezes, de maneira utilitarista e acrítica, mas ocupam posição central nos debates científicos, tecnológicos e políticos que lhe são correlatos. Perspectivas críticas em psicologia social (Adorno, 2015) e ambiental (Diniz et al., 2020) vêm permitindo compreender as profundas repercussões da crise ambiental na constituição psicossocial de indivíduos e grupos humanos, bem como as múltiplas conexões entre os processos identificatórios e as relações que a sociedade ocidental e as sociedades não-ocidentais estabelecem com a natureza (Adorno & Horkheimer, 2014; Castells, 2018; Giddens, 1991; Viveiros de Castro, 2015).

Por essas razões, parece-nos importante que o Departamento de Psicologia Social e do Trabalho reconfigure seu desenho institucional, constituindo um núcleo que se dedique especificamente a essas questões e contribua de forma organizada para o debate sobre a crise ambiental entendida em seus múltiplos aspectos, que incluem, mas não se limitam, ao estudo da mudança climática, da perda da biodiversidade e de largas porções da cobertura vegetal do planeta, ao epistemicídio de culturas não-ocidentais, às repercussões psicossociais da crise urbana (moradia, violência, fome, transporte, encarceramento em massa) e aos processos migratórios.

O presente documento tem por finalidade apresentar à consideração deste Departamento e deste Instituto a proposta de criação do LARPA – Laboratório de Estudos e Pesquisas em Relações Pessoa- Ambiente, junto ao Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do IPUSP.

Objetivo

O laboratório tem por objetivo promover pesquisas, espaços formativos e projetos de extensão e ação transformadora que atuem sobre diferentes aspectos das relações pessoas-ambientes – com ênfase para o campo da psicologia socioambiental – e da chamada crise ambiental, buscando intercâmbios com outros grupos que atuem em temas correlatos no país e no exterior e enfatizando colaborações entre os países do chamado Sul Global.

Linhas de Atuação

O laboratório irá desenvolver ações de caráter interdisciplinar e transdisciplinar, em consonância com as aspirações próprias do campo de estudos das relações pessoa-ambiente, visando: promover o desenvolvimento teórico-conceitual do campo, sob variadas perspectivas críticas; promover o intercâmbio com grupos de pesquisa e ação no Brasil e no exterior que se dediquem ao mesmo campo de pesquisa e ação; criar espaços formativos que colaborem com a promoção de ações participativas visando a enfrentar a chamada crise ambiental, os quais podem ter caráter formal e informal; desenvolver práticas sociais transformadoras de caráter participativo no campo das relações pessoa-ambiente.

Linhas de pesquisa

O laboratório irá dedicar-se ao desenvolvimento de pesquisas especialmente nos seguintes campos-temas:

Relações pessoa-ambiente em diversos contextos socioculturais (Sewaybricker & Massola, 2022, 2023);

Promoção da segurança e justiça ambiental (Coelho et al., 2020; de Oliveira dos Santos et al., 2016; Hodgetts et al., 2022)

Psicologia socioambiental e desenvolvimento sustentável.

Eixos de atuação

Proposição e orientação de projetos de pesquisa;

Criação de disciplinas de graduação e pós-graduação, cursos de extensão e espaços formativos, formais e informais;

Publicação de resultados de pesquisa, ação interventiva e espaços formativos, em distintos formatos (artigos, capítulos, livros, sites, blogs, vídeo, áudio);

Divulgação para o grande público dos resultados das ações realizadas;

Proposição de ações de intercâmbio e parceria com distintos atores sociais, governamentais e não-governamentais, acadêmicos e não-acadêmicos.

 

Proponentes

Gustavo Martineli Massola – Professor Associado – Departamento de Psicologia Social e do Trabalho
Mário Henrique da Mata Martins – Professor Assistente – Universidade Federal de São Carlos
Nikolas Olekszechen – Professor Assistente – Universidade Estadual de Maringá
Luciano Espósito Sewaybricker – Professor Assistente – Centro Universitário São Camilo
Denise Batista Pereira Jorge – Membro analista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica e da International Association Analytical Psychology

Referências

Adorno, T. W. (2015). Sobre a relação entre sociologia e psicologia. Em Ensaios sobre psicologia social e psicanálise (p. 71–135). UNESP.
Adorno, T. W., & Horkheimer, M. (2014). Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos (Kindle). Zahar.
Castells, M. (2018). O poder da identidade [e-book]. Paz & Terra.
Cavalcante, S., & Elali, G. A. (Orgs.). (2011). Temas básicos em psicologia ambiental (p. 318). Vozes.
Coelho, P. S., Cordeiro, M. P., & Massola, G. M. (2020). Effects of female political participation on insecurity in a mining area. International Perspectives in Psychology: Research, Practice, Consultation, 9(1), 18–35. https://doi.org/10/gjnnc5
de Oliveira dos Santos, A., Massola, G. M., Galeão-da-Silva, L. G., & Svartman, B. P. (2016). Racismo ambiental e lutas por reconhecimento dos povos de floresta da Amazônia. Global Journal of Community Psychology Practice, 7(1), 1–20. https://doi.org/10/gjnnb5
Diniz, R. F., Olekszechen, N., Minchoni, T., Mattos Farias, T., Soares Da Silva, A. P., Massola, G. M., & de
Carvalho, L. P. (2020). People-environment relations in the COVID-19 pandemic in Brazil: Contributions from a critical Latin American Environmental Psychology. Estudos de Psicologia (Natal), 25(3), 335–346. https://doi.org/10.22491/1678-4669.20200034
Fernandes, F. (1975). Comunidade e sociedade no Brasil. Leituras básicas de introdução ao estudo macro-sociológico do Brasil (2o ed). Editora Nacional.
Giddens, A. (1991). Modernity and self-identity: Self and society in the late modern age. Stanford
University Press.
Guba, E. G. (1990). The paradigm dialog. Sage.
Hodgetts, D., Hopner, V., Carr, S., Bar-Tal, D., Liu, J. H., Saner, R., Yiu, L., Horgan, J., Searle, R. H., Massola, G., Hakim, M. A., Marai, L., King, P., & Moghaddam, F. (2022). Human Security Psychology: A Linking Construct for an Eclectic Discipline. Review of General Psychology, 108926802211091.
https://doi.org/10.1177/10892680221109124
Sewaybricker, L. E., & Massola, G. (2022). WHAT IS SUBJECTIVE WELL-BEING? A CRITICAL ANALYSIS OF THE ARTICLE SUBJECTIVE WELL-BEING, BY ED DIENER. Psicologia & Sociedade, 34, e258310. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2022v34258310-en
Sewaybricker, L. E., & Massola, G. M. (2023). Against well-being: A critique of positive psychology. History of the Human Sciences, 36(1), 131–148. https://doi.org/10.1177/09526951221114733
Svartman, B. P., & Massola, G. M. (2023). Comunidade, território e enraizamento: Diálogos entre a Psicologia Social Comunitária e a Psicologia Ambiental Latino-Americanas. CRV. https://drive.google.com/file/d/10haU-kLZxJ3ZbivZimwstGmLJBSqul0s/view
Viveiros de Castro, E. (2015). Metafísicas canibais. Cosac Naify.