Por Julia Estanislau
Arteterapia é um tipo de tratamento terapêutico já reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e pela legislação brasileira. Baseada na crença de que o autoconhecimento pode ser uma forma de cura, a arteterapia trabalha com a criação e expressão artística nos mais variados campos, seja por meio da pintura, música, escultura, colagem, dança e do artesanato: quanto mais uma pessoa conhece a si mesma, mais fácil é identificar quais são seus problemas e como enfrentá-los. Esse autoconhecimento, portanto, vem por meio da arte.
Como explica a psicóloga e doutoranda em Psicologia Clínica pela USP, Erika Rodrigues Colombo, “a arte propicia essa expressão mais fundamental, acessando nossa afetividade de forma menos elaborada. E aí que conseguimos fazer emergir conteúdos que de forma racional, por exemplo, pela nossa fala, seria mais difícil de acessar ou levaria muito mais tempo. Então, esse efeito benéfico, essa transformação, vem da possibilidade de a gente conseguir entrar em contato mais direto com a nossa afetividade”.
Arte como tratamento
Um relatório produzido pelo Escritório Regional para a Europa da Organização Mundial da Saúde concluiu que a arteterapia tem resultados positivos tanto na melhoria da saúde mental como na saúde física, por meio da promoção de um hábito saudável de cuidados. Ela ajuda o desenvolvimento das crianças, a prevenir a piora de doenças, pessoas com saúde mental comprometida ou com doenças diagnosticadas e pessoas com desordens neurológicas e em cuidados paliativos (final da vida).
A doença de Parkinson, que atinge cerca de 1% da população mundial, mostra melhorias clínicas significativas por meio da arteterapia, enquanto os efeitos colaterais do tratamento de câncer, como a falta de apetite, sonolência e náusea diminuem. Também a prática melhora o bem-estar daqueles com depressão ou demência, síndrome que causa declínio das habilidades cognitivas. Atualmente, calcula-se que a doença acometa 55 milhões de pessoas no mundo, e esse número pode chegar a 139 milhões em 2050.
“Pessoas com Alzheimer, por exemplo, têm bons resultados trabalhando com música, principalmente aquelas que têm significado afetivo para aquela pessoa. É uma forma dela entrar em contato com essas memórias que vão ficando perdidas com o desenvolvimento da doença”, explica a psicóloga.
Ela também ressalta que não apenas a criação artística ajuda no tratamento, mas o simples contato com a arte já produz efeitos positivos, como ir ao museu, escutar uma música ou estar inserido em ambientes artísticos. “Quando a pessoa se coloca de forma passiva, como espectador de espetáculos ou até mesmo observando um quadro, vemos que todas essas atividades têm um efeito no cérebro e podem ajudar a melhorar [a saúde das pessoas]”, diz.
A arte estimula o cognitivo, a imaginação, a criatividade e ativa os sentidos sensoriais. Isso tem impactos na sociabilidade e no comportamento daqueles expostos ou participantes da arteterapia. Outro aspecto dessa forma de tratamento, salientada por Erika, é a capacidade que diferentes texturas e práticas artísticas têm de causar diferentes resultados.
Mesmo assim, a terapia ainda enfrenta resistência, não tanto pela sociedade, mas sim por parte dos pacientes. “Muita gente tem preconceito com ‘eu vou desenhar, mas você vai fazer o quê?’, ou então, às vezes, acha que não sabe desenhar porque não gosta do que produz. Enquanto estivermos mal, numa fase difícil, o que produzimos não vai ser lindo, porque está mostrando o desequilíbrio. Mas, aos poucos, isso se transforma e o processo é que é importante”, diz a psicóloga.
Modalidade terapêutica
Um estudo da Associação Americana de Arteterapia, que entrevistou 623 profissionais da área, constatou que 53,1% deles continuaram a trabalhar presencialmente durante a pandemia de covid-19, na época do lockdown mundial. Dentre esses, 64,5% dizem ter sido considerados trabalhadores essenciais. Isso indica que, mesmo que haja uma resistência, esse tipo de terapia é bem aceita e indispensável entre seus adeptos.
Para ser um arteterapeuta, tem que ser licenciado e profissional de psicologia ou psiquiatria formado. Não se trata de qualquer um que pode aplicar esse tipo de terapia e, mesmo que até uma ida ao museu funcione como parte da melhora cognitiva e física, toda a terapia tem que ser assistida e acompanhada por um profissional. Caso contrário, os efeitos não serão completos. Já existe no País pós-graduação na área, certificada pelo Ministério da Educação e Cultura e, como opção, cursos que seguem os padrões estabelecidos pela União Brasileira das Associações de Arteterapia, a UBAAT.
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