Por Evanir Ferreira

Dentre as profissões mais estressantes, provavelmente a de controlador de tráfego aéreo (ATCO, do inglês Air Traffic Controller) esteja no topo da lista. Afinal, eles lidam com situações imprevisíveis, mudanças constantes de cenário no ambiente de trabalho, alto nível de atenção e impossibilidade de erros. Entre suas responsabilidades, está a de garantir que as aeronaves decolem e aterrissem em segurança e de forma ordenada nos aeroportos.

Uma pesquisa da área de Neurociências e Comportamento, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, confirmou a tese de que, ao final da jornada, a percepção de fadiga mental aguda (que foi o foco da pesquisa) desses profissionais está mais acentuada e suas respostas motoras, mais lentas. Foi descoberto também que mesmo após a realização de um treinamento computacional (chamado de Cogmed) para estimulação das funções cognitivas, a sensação de esgotamento permanecia latente, fato que surpreendeu as pesquisadoras envolvidas no estudo. A hipótese inicial era a de que o cansaço mental diminuísse após a realização do curso.

A coleta de dados ocorreu no Centro de Controle de Aproximação, no aeroporto de Congonhas, na cidade de São Paulo, durante a pandemia de covid-19, em 2021. Foram 23 profissionais (homens e mulheres) avaliados em seu estado de fadiga mental, no início e no final do turno.

Controladores de tráfego aéreo na base de trabalho do Centro de Controle de Aproximação, na cidade de São Paulo, no aeroporto de Congonhas — Foto: Cedida pela pesquisadora


Sintomas

Dâmaris Campos Teixeira, psicóloga e autora da pesquisa — Foto: Arquivo pessoal

A pesquisa descreve como sintomas da fadiga mental aguda a diminuição das habilidades cognitivas – falta de atenção, de concentração, de consciência da situação, de funções executivas, de redução da motivação -, aumento de erros e lentidão nas respostas motoras. Nos quadros de fadiga crônica, podem surgir outros sintomas como sonolência e alterações de humor. “A exaustão é a cronicidade do quadro de fadiga. Quando o quadro se torna crônico, há um adoecimento da pessoa, porque o descanso não restabelece nem recupera o cansaço, como no caso da fadiga aguda”, explica ao Jornal da USP Dâmaris Campos Teixeira, psicóloga e autora da pesquisa.

“Os ATCOs são constantemente expostos a um esforço cognitivo prolongado como tomada de decisão, pressão e realização de várias tarefas ao mesmo tempo. Essas condições tendem a levar ao desenvolvimento de quadros de fadiga mental, que pode prejudicar o estado de alerta e afetar a eficiência e a performance humana”, diz Dâmaris.

“As atividades exercidas pelos controladoras e controladores de voo demandam grande nível atencional e se supõe que, após algumas horas de trabalho, o desempenho deles possa sofrer alterações”, explica a orientadora da pesquisa, Michele Schultz, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. “Os resultados desse estudo são importantes para orientar ajustes no ambiente de trabalho, como pensar em períodos maiores de descanso dentro de um mesmo turno e entre outras demandas individuais, considerando o estado mental e físico de cada pessoa”, relata.

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