10 dez 2021
A naturóloga e especialista em neurociências Vanessa Castello Branco Pereira atua na prática clínica interdisciplinar desde a graduação, em 2006. Atualmente, ela é mestranda do Programa de Pós Graduação do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), na área de Psicologia Experimental — Sensação, Percepção e Cognição. Ela escolheu como tema de pesquisa uma proposta de treino olfativo personalizado que ajuda pacientes que perderam o olfato como efeito colateral da Covid-19.
Ela explica que o tratamento experimental tem como base a modificação de um treino clássico proposto pelo cientista alemão Thomas Hummel, em 2009, e leva em consideração os aspectos psicológicos de cada sujeito. “Uma vez que observamos as trocas neurobiológicos compartilhadas entre os sistemas olfatório e afetivo, podemos reforçar as conexões neurais que ficaram prejudicadas a partir da valência afetiva positiva quando usamos um aroma que temos afinidade”, explica Vanessa.

“O treino olfativo deixa de ser apenas uma estimulação aleatória dos receptores olfatórios que estão presentes na nossa cavidade nasal, para apresentar um reforço lá na frente, nos neurônios que fazem parte das vias de processamento ‘superior’ do olfato, no SNC, e que foram enfraquecidas em decorrência da infecção viral”, diz.

A ideia

A mestranda de psicologia narra que a ideia para proposta do treinamento olfativo surgiu antes da pesquisa do mestrado. “Foi lá em 2019, quando tive contato com minha primeira paciente que apresentava um quadro de perda de olfato persistente (há cerca de dois anos) e sem diagnóstico, aos 92 anos de idade, com saúde impecável”, conta.

À princípio, Vanessa já trabalhava com olfato em sua prática clínica, mas depois desse caso em específico, ela ficou sensibilizada pela história de vida da paciente. “Ela me contou que sua maior queixa era que não conseguia mais comer geleias de frutas pois, agora sem o olfato, além de perder o aroma deste alimento, estava perdendo a memória da mãe. Ela dizia que parecia que a memória da mãe deixava de ser vívida sem o aroma da geleia”, disse Vanessa.

A partir do caso, Vanessa, que estava na França, fez alguns workshops com uma perfumista e terapeuta olfativa que atuava nos chamados Ateliês Olfativos, que acontecem em uma série de hospitais franceses e atendem pacientes de diferentes setores, desde Oncologia a Traumatologia, que tiveram o olfato alterado. Ela voltou para o Brasil com um objetivo traçado.

Como participar

Por enquanto, o tratamento está disponível apenas em São Paulo, na sede da USP, mas Vanessa diz que, com a repercussão da pesquisa, já pensa em disponibilizar o treinamento em mais estados. “Como a demanda foi muito grande, nos surpreendeu. Tanto para quem está fora da cidade de São Paulo, como para quem teve Covid-19 e teve alteração do olfato, mas não fez o teste, nós já estamos pensando na possibilidade de criar um grupo de apoio online”, afirmou.

Para participar, a pessoa deve:

– Ser maior de 18 anos;

– Apresentar o teste de Covid-19 positivo da época do adoecimento;

– Ter disponibilidade para ir até a USP ao menos 04 vezes, ao longo do tratamento e avaliação, que tem previsão de duração de 03 meses.

Publicado originalmente em: https://www.opovo.com.br/coronavirus/2021/12/10/estudante-desenvolve-tratamento-para-pessoas-que-perderam-o-olfato-devido-a-covid-19.html

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