Segundo pesquisa internacional que inclui o IPUSP, mulheres tendem a destacar-se como melhores dirigentes no enfrentamento à pandemia devido a características psicológicas e comportamentais

Por Caroline Cardoso
7/4/2021

À esq., o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro; à dir., a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arndern. Reprodução Google Imagens

O artigo “Pandemic Leadership: Sex Differences and Their Evolutionary–Developmental Origins” (Liderança na pandemia: diferenças sexuais e suas origens evolucionárias de desenvolvimento)¹” compara a eficiência de chefes de Estado na luta contra a COVID-19, com base na revisão de estudos de diversas áreas e na análise de dados da pandemia. O objetivo central é examinar se o sexo dos líderes pode influenciar no maior ou menor controle da disseminação do vírus. A pesquisa foi realizada por Marco Antonio Corrêa Varella (pesquisador de pós-doutorado do Departamento de Psicologia Experimental (IPUSP)) em parceria com Severi Luoto (University of Auckland, Nova Zelândia), e publicada no jornal acadêmico “Frontiers in Psychology”, em 15 de março de 2021.

Os autores comparam estudos de diferentes áreas (como ciência política, antropologia, ciência evolutiva e neurociência), para testar a hipótese de que o sexo de líderes governamentais pode ter alguma influência em suas posturas de enfrentamento à COVID-19. Uma área, em particular, trouxe observações relevantes a esse respeito: a psicologia. 

Ao levantar características psicológicas e de personalidade, os autores notaram que mulheres tendem a ser mais empáticas, avessas a riscos, e mais humanitárias que homens, o que as singularizaria como autoridades mais eficientes neste momento tão crítico de pandemia. Além disso, também apontaram as bases ontogenéticas (a ontogenia (ou ontogênese), é a área da biologia que descreve a origem e desenvolvimento de um organismo, do embrião à fase adulta) e evolutivas desse conjunto de capacidades psicológicas, a fim de embasar a pesquisa.

Varella e Luoto também sugerem que, dada a universalidade e antiguidade dessas capacidades psicológicas, pode ter havido no período ancestral uma divisão de trabalhos de líderes na qual homens mostravam-se mais efetivos em contextos de conflito intergrupal, e as mulheres, mais bem-sucedidas durante surtos de doenças, outra justificativa à hipótese de que dirigentes mulheres apresentam melhor desempenho no controle da pandemia. 

   Além da vasta revisão de diferentes estudos, dois casos são comparados ao longo do artigo: Brasil e Nova Zelândia e a maneira como seus respectivos líderes reagiram ao surto de COVID-19 no ano de 2020. 

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por exemplo, minimizou a ameaça à saúde que o vírus poderia causar e implementou medidas sociais menos severas do que outros líderes no início da pandemia, o que acarreta em consequências graves até o momento atual. Por sua vez, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arndern, adotou medidas extremamente rigorosas de lockdown logo no início da pandemia, quando havia apenas 102 casos de COVID relatados no país e nenhuma morte. Como consequência, em 30 de outubro de 2020 o Brasil apresentava cerca de 746 mortes relacionadas ao vírus por milhão de habitante (sendo classificado como o país com a 6ª maior mortalidade relacionada à COVID na época), e a Nova Zelândia apresentava uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo: 5 mortes relacionadas ao vírus por milhão de habitante. 

Os autores reconhecem que pode haver possíveis limitações na conclusão de seu argumento e que tais diferenças não podem ser generalizadas, mas também acreditam que é de extrema importância tratar desse tema atual e trazer à tona a discussão sobre a necessidade de aumento da representatividade feminina na política.

 Artigo original: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2021.633862/full 

¹ Tradução livre

IP Comunica | Serviço de apoio institucional
Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - sala 26
Cidade Universitária - São Paulo, SP

Noticias Relacionadas