17 maio 2017

Imprensa – Boletim Online do IPUSP

IP na Mídia

site uai: Ciência e Tecnologia, 17/5/2010

Por Márcia Maria Cruz – Estado de Minas

Pesquisa feita em ratos explicita que processo molecular de gravação das informações relevantes é ativado durante a fase REM, preservando registros recebidos na vigília

Durante o sono REM aumenta a atividade de redes que são importantes para codificar informações úteis

As descobertas sobre o funcionamento das redes neuronais durante o sono REM, o último estágio do sono, consolida a importância de uma noite bem dormida para uma memória ativa. O estudo “A expressão de genes relacionados à plasticidade sináptica durante o sono REM após exposição a um ambiente enriquecido” demonstra que o sono é fundamental no processo de transmissão de informações do hipocampo (região profunda do cérebro fundamental na memória) para o córtex (camada mais externa do cérebro, responsável pelos movimentos do corpo e a realização de atividades intelectuais).

No estudo, desenvolvido por Julien Braga Calais, no Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e pelo Instituto de Psicologia, também da USP, foram analisados dois grupos de ratos em situações distintas. Um dos grupos foi colocado em uma caixa e lidava com informações rotineiras, e outro foi colocado em uma caixa semelhante, mas era confrontado com diferentes objetos ao longo da vigília. Posteriormente, os animais de cada grupo foram sacrificados em um determinado estágio do sono, para ter registrado um determinado processo cerebral.
Em seguida, foi analisado o tecido cerebral em cada um desses momentos. A pesquisa comprovou que, durante o sono REM, aumenta a atividade de redes que são importantes para codificar informações úteis, ao passo que as redes ativadas por dados irrelevantes têm a atividade diminuída.
As inferências a partir do experimento possibilitaram ao pesquisador entender como, nos seres humanos, os genes ativam as redes neuronais e fazer o detalhamento do processo molecular de gravação das informações relevantes. Foi possível demonstrar como as redes, ativadas durante a vigília, são reativadas no sono REM, estágio relativamente curto do sono em que ocorre a maior parte dos sonhos. A seleção do cérebro faz com que as informações não relevantes não sejam consolidadas.
A seleção do que é mais importante para ser guardado está relacionada ao nível de emoções envolvidas na situação vivida por cada um. Quanto mais sentimentos uma situação suscitar, mais a informação se torna relevante para ser arquivada no cérebro. “As pessoas tendem a lembrar informações com forte conteúdo emocional, como a batida de um carro, o dia do casamento”, explica Calais, que desenvolveu o trabalho em sua dissertação de mestrado.
Quando as pessoas estudam para guardar determinada informação também há uma ativação das redes neuronais. As informações chegam ao cérebro por meio dos cinco sentidos (visão, olfato, tato, gustação e audição) e são armazenadas temporariamente no cérebro por segundos. Dependendo da atenção, da experiência do indivíduo, da sua cultura, do interesse (emoção) associado, ela é selecionada para ir a outro compartimento, que é o depósito definitivo. O resto, o que não interessa, permanece por pouco tempo nesse depósito temporário e é descartado. “É como se, durante o sono, houvesse um filtro que seleciona e armazena as informações importantes”, diz.
As conclusões da pesquisa explicam as razões pelas quais as pessoas sonham com situações vividas durante o dia. “Os sonhos são resquícios do processamento de informação.” Pela importância do sono REM para a ativação das redes neuronais, noites bem-dormidas são essenciais para o desenvolvimento cognitivo. Em outras palavras, o aluno que dorme as oito horas por noite terá melhor rendimento escolar do que o colega que teve o sono prejudicado, da mesma forma que os trabalhadores que não foram privados de sono serão mais produtivos do que profissionais que dormiram mal.
Quando as pessoas dormem menos do que deveriam, costumam ter mais dificuldade para guardar as informações. “Se você apresenta uma lista de 10 palavras para alguém e o impede de dormir nas próximas três horas, principalmente no início do sono, ele vai se lembrar de três ou quatro delas. Se a mesma lista for apresentada a alguém que pôde dormir à vontade, ele se lembrará de sete a oito palavras.” A dificuldade em lembrar se exacerba à medida que se perdem mais horas de sono.
As pesquisas que correlacionam sono e memória datam da década de 1920. Os primeiros trabalhos demonstravam que o sujeito privado de sono apresentava um déficit de memória em relação a outros que dormiram bem. Na década de 1960, outra leva de estudos reafirmaram a descoberta. No entanto, não havia técnicas que mapeassem as bases biológicas para comprovar a relação. Desde 1990, há uma leva de pesquisas nessa área que demonstram os aspectos biológicos, a exemplo da pesquisa de Calais, que foca a análise em um nível molecular.

IP Comunica | Serviço de apoio institucional
Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - sala 26
Cidade Universitária - São Paulo, SP

Noticias Relacionadas