O conhecimento do sistema nervoso surge atrelado à psicologia desde os primórdios das neurociências. Alcméon de Crotona (século V a.C), um médico- filósofo-cientista grego e discípulo de Pythagoras, propôs que o sistema nervoso seria a sede das sensações e do pensamento. No mesmo século, Hipócrates (460 – c. 370 a. C), também afirmava que o cérebro era o centro de comando do corpo e das emoções, pensamentos e memória, e desenvolvia um dos primeiros sistemas de classificação dos transtornos mentais. Sócrates (469–399 a. C ) articulou essa visão com o empirismo epistemológico, adotado depois por Aristóteles (384–322 a. C), que predicava que o surgimento do conhecimento envolvia três passos: primeiro, o cérebro provia as sensações vindas dos sentidos; segundo, das sensações eram formadas memórias e opiniões, e terceiro, as memórias e opiniões eram fixadas e o conhecimento então surgia.

No decorrer da história, a visão grega da relação entre o sistema nervoso (cérebro) e o comportamento (mente) mudou, porém, a premissa básica dualista (cérebro e mente como duas entidades separadas) e unidirecional (o cérebro comanda a mente), prevaleceu até o século 19 sem mudanças importantes nas ciências, e prevalece ainda em algumas correntes de pensamento. Ao mesmo tempo, os cientistas privilegiaram a abordagem analítica para a geração do conhecimento científico. Essa abordagem produziu grandes avanços científicos, mas foi promotor da especialização e hiper-especialização da produção do saber. Dentro desse modelo analítico, o dualismo pode se perpetuar: neurocientistas estudavam o cérebro (especialistas do cérebro), psicólogos estudavam a mente ou comportamento (especialistas da mente). Dessa compartimentalização do saber foi gerada tecnologia na medicina e na psicologia, que mostrou ser insuficiente para resolver satisfatoriamente os problemas de desenvolvimento ou de comportamento de humanos. Uma nova forma de se produzir conhecimento era necessária.

No século XX vários pensadores como J. Ortega y Gasset, C.P Snow e cientistas como N. Wiener e R, Oppenheimer, expuseram as deficiências da estratégia analítica adotada pelas ciências, e propuseram uma aproximação científica alternativa à especialização: a interdisciplinaridade (para uma revisão ver Olga Pombo (Epistemologia da interdisciplinaridade, Ideação-Revista do Centro de Educação e Letras, 10, p. 9-40. 2008). Desse movimento surgiram duas formas de interdisciplinaridade: a integração de aproximações e achados de disciplinas autónomas em um corpo unificado de conhecimentos e a combinação de elementos de disciplinas em uma nova disciplina. Exemplo dessa última são as Ciências Cognitivas, que reúne métodos e teorias da filosofia, psicologia, inteligência artificial, neurociências, linguística e antropologia para o estudo da mente e da inteligência.

Sob a perspectiva interdisciplinar, e na contramão da concepção dualista e unidirecional da relação sistema nervoso-comportamento, um grupo de docentes da USP formado por psicólogos, biólogos, médicos e engenheiros fundou no início dos anos 1990 o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Neurociências e Comportamento (NAP-NeC). Os núcleos de apoio à pesquisa (NAPs) da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP são “órgãos de integração da Universidade de São Paulo, instituídos com o objetivo de reunir especialistas de um ou mais Unidades e órgãos em torno de programas de pesquisa de caráter interdisciplinar e/ou de apoio instrumental à pesquisa” (Resolução Nº 3657, de 15 de fevereiro de 1990 – http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-3657-de-15-de-fevereiro-de-1990). O objetivo principal do NAP-NeC era fomentar e articular a produção científica entre pesquisadores de diferentes áreas preocupados com o estudo da relação entre o sistema nervoso e o comportamento.

Em 12/05/1992 foi autorizado pelo Conselho de Pós-Graduação (Processo USP 01.133174.1.9) o Programa de Pós-graduação em Neurociências e Comportamento (PPG-NEC), fruto do trabalho conjunto do grupo de pesquisadores do NAP-NeC. Essa iniciativa abriu as portas para a formação de pesquisadores e docentes com visão integrativa das diferentes áreas das Neurociências, e com as formas de se pensar sobre sua relação com o comportamento. Seus alunos devem cursar disciplinas de diferentes unidades da universidade, e podem desenvolver projetos de pesquisa de colaboração entre dois ou mais laboratórios da USP e de outras universidades nacionais e internacionais.

Desde sua fundação, o programa está sediado no Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da USP, e sua secretaria está localizada na Av. Professor Mello Moraes, 1721, Blocos A, CEP 05508-030, telefone: (11) 3091-1901, FAX (11) 3091-4909 (Todas as informações sobre o programa podem ser obtidas na homepage do Instituto de Psicologia (https://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1389&Itemid=114&lang=pt) .

No Brasil, a PPG-NEC foi pioneira em vincular um programa de pós-graduação em neurociências a um departamento de Psicologia, afirmando seu compromisso com a interdisciplinaridade, e com uma aproximação mais holística aos fenômenos psicológicos.